No Festival de Cannes 2011, O Garoto da Bicicleta (Le gamin au vélo) conquistou o Grande Prêmio do Júri . Dirigido por Jean-Pierre e Luc Dardenne, o filme me deixou tensa do início ao fim. E ao fim, com a pergunta: “será que eu daria conta desta situação?”

Cyril (Thomas Doret) é um adolescente francês, que tem por volta de 12 anos. Mora numa cidade do interior e logo de início vemos que está inconformado por ter sido deixado em uma instituição para meninos pelo pai. A princípio, temporariamente, por um mês. Não só ficou sem o pai : sua bicicleta também lhe foi tomada. A cada dia que passa, está mais agressivo. Tenta de todos os modos encontrar o pai. E todos os modos envolvem fuga e agressão.

Nesta busca, encontra por acaso uma mulher, Samantha (Cécile de France). Cabeleireira, Samantha é um destes anjos que a gente fica sabendo que existem na vida real, mas que não conhece muito… Do nada, ela resolve ajudar Cyril a encontrar o pai – sem que fiquemos sabendo porquê. Terá ela sido abandonada? Terá perdido algum filho nesta idade? Não importa! Não saberemos. Nisto, filmes franceses são ótimos: não tentam mostrar a história prévia dela para justificar sua atitude.

Samantha vai descobrindo, a duras penas, que nem sempre é fácil ajudar. Cyril não é um jovenzinho amável e a coloca em situações complicadas, tendo de algumas escolhas para manter a relação de ajuda . Cheio de uma rebeldia juvenil – e ingênua – o menino põe ambos em riscos. A sensação é, o tempo todo, “isto não vai dar certo”.

Bom, daqui pra frente, melhor eu parar e deixar para quem vai ver o filme. Depois do trailer, vem spoilers… Caso você assista, volte aqui para opinar.





Finalizando, a relação pai e filho é um ponto que provoca bastante a reflexão: será possível se identificar com o pai de Cyril, entendê-lo, aceitá-lo? Aqui também a gente não tem informação do ‘contexto’ do nascimento e vida de Cyril até o início do filme. Suspender juízos de valor é fundamental para não ‘demonizar’ o pai. Como a Laura Brown, de As Horas (sempre ela…).

Paro aqui para não entregar o final do filme…. Mas, nos comentários, fique à vontade!


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Thays Babo é psicóloga, Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio e atende no Rio de Janeiro

A criança na bicicleta
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2 ideias sobre “A criança na bicicleta

  • 01/12/2011 em 16:24
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    Obrigado pela sua presença, ia opinar no A Pele que Habito, mas espero sua postagem digerida (apenas destaco que o comentário do carro do médico não era preciosismo cinematográfico, mas indicativo do desleixo de Almodóvar na temporalidade da narrativa).

    De toda forma, ao menos concordamos com O Garoto da Bicicleta, que eu gosto muito. Acho, somente, que poderia ter terminado em um momento tematicamente mais oportuno – a pedalada na bicicleta noturna após a catarse emocional do garoto – ou que Cyril acaba ficando “bonzinho” e “bonitinho” rapidamente, pois antes era agressivo e impulsivo, um projeto de delinquente, por assim dizer.

    No mais, parabéns pelo Blog 🙂

  • 03/12/2011 em 16:24
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    Oi, Márcio
    desculpe a demora aqui na aprovação! Ainda nem comecei a escrever sobre A pele que habito, os últimos dias foram meio tumultuados.

    Sobre O garoto da Bicicleta… é, a solução do conflito foi muito rápida. Porém, se lembramos que era tudo muito recente na vida de Cyril (só tinha um mês que o pai o tinha deixado no internato), podemos até achar crível… Ou seja, ele não tinha um histórico de instituição, com um passado de trauma e abandono. Isto faz uma grande diferença… Se sua família de origem era estruturada, se até então teve boa escolarização, tal rebeldia podia ser só a típica de um adolescente, achando que um mal entendido o separava do pai. Suficientemente inteligente e preparado, desiste de persistir no vínculo quando percebe que não adiantaria… Como eu falei no texto, a gente não fica sabendo de nada da história de nenhum personagem: é um corte no tempo, o que pode dar ideia de um happy end apressado. E também, corta ali. A gente não sabe como continua, que outras o rapazinho vai aprontar. Será que vai procurar outras figuras masculinas que o decepcionarão? Será que Samantha teria um amor incondicional eterno, para qualquer recaída?

    Obrigada pela visita, te aviso quando postar sobre o Almodóvar. Mas, não se assuste: menos atenção às técnicas e dados cinematográficos, mais à psicologia dos personagens…

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