No mundo inteiro, os dados sobre depressão são alarmantes e apontam a necessidade de entender melhor o que é a doença, principal causa de problemas de saúde e incapacidade em todo o mundo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão cresceu 18% entre 2005 e 2015. Estes números deveriam servir de alerta para os governos sobre a necessidade de repensar suas políticas de saúde mental, que geram enorme prejuízo econômico e ceifam muitas vidas. Ainda assim, os investimentos não têm sido suficientes. Em 2017, a OMS criou a campanha “Depressão: vamos conversar” que gerou bastante envolvimento entre os profissionais de saúde mental, divulgando-a através das hashtags sobre o tema nas redes sociais.
O Facebook criou um atalho para quem digitar a palavra na pesquisa depressão, para prevenção do suicídio, já que a doença aumenta a ideação suicida. Apesar da conscientização sobre o problema ter aumentado, grande parte do público leigo não entende sua gravidade e julga quem sofre de depressão. Muitas pessoas confundem ainda o que é uma tristeza ‘normal’ e depressão. No Brasil, em 2018, aumentou o índice do suicídio entre estudantes, o que torna imperativo que pais e mães fiquem atentos à modificação nos comportamentos de crianças e adolescentes e busquem ajuda.
Em 2018, os suicídios da estilista Kate Spade e do famoso chef Anthony Bourday surpreenderam o mundo, desmentindo o que muita gente pensava: depressão não é falta de sucesso, de fama ou de prestígio. Tornou-se mais evidente, para pessoas leigas, que mesmo as pessoas aparentemente felizes, realizadas profissional ou amorosamente, podem sofrer da doença, que pode ser incapacitante. Ao impactar a capacidade laboral e a produtividade pode gerar também, a médio e longo prazo, crise financeira que, eventualmente, afetará relacionamentos familiares e amorosos.
A depressão também aumenta o risco de transtornos de uso de substâncias – que, por sua vez, aumentam o risco de suicídio. Além disto, doenças cardíacas e diabetes podem advir da depressão. Alguns dos sintomas, muito resumidamente, estão na imagem abaixo:

- Quando alguém te disser que sofre de depressão, aceite e escute, ao invés de listar coisas positivas ou conquistas para consolá-la. Informe-se sobre o que é a doença para entender melhor, ao invés de negar a experiência do outro;
- Não adianta dizer que ‘entende’ a depressão dela. Você não consegue, na verdade, acessar o que ela sente e pensa, mesmo que já tenha sofrido também com a doença. Não minimize. Diga apenas que você está 100% ali para ela.
- Esteja disponível afetivamente, de verdade. De preferência, presencialmente. Se você já sofreu de depressão e quiser compartilhar sua experiência, pode ser encorajador. Mas tenha certeza de que você não sente nem sentiu exatamente igual a quem está à sua frente. Na pele dela, só ela sente, só ela poderá descrever o que ela está passando – se conseguir;
- Ao compartilhar sua experiência, não imponha regras como tratar ou sentir, como se a sua forma fosse a única verdadeira ou válida. Abra-se, mas na medida do que a pessoa solicita. Ela não se sentirá tão sozinha e diminuirá possíveis sentimentos de vergonha ou culpa, que muitas vezes acompanham o quadro;
- Sugira – sem impor – acompanhamento psicoterapêutico, que pode ser muito eficaz. Familiares e amigos não podem dar conta do tratamento e serem responsáveis pelo acompanhamento. É preciso treinamento e experiência. Muitas pessoas têm preconceitos contra a psicoterapia e/ou mesmo contra o rótulo de ‘depressão’. Se for você quem os tem, informe-se também e pesquise. Você encontrará evidências científicas da eficácia. As finanças podem ser o impeditivo para alguém pensar em fazer psicoterapia, mas existem alternativas – o que chamamos no Brasil de clínica social. Se você puder, ajude-a no processo de seleção do/a profissional. Esta ajuda inicial pode fazer a diferença e demonstra o seu amor e disponibilidade. Mas é importante ela dê o primeiro passo, fazendo o contato – com a responsabilidade pelo agendamento, a possibilidade de se comprometer com o processo aumenta;
- É comprovado que atividade física auxilia em vários transtornos psis e também na depressão. Mas a pessoa deprimida tem maior dificuldade de aderir e sair da inércia e então, ao invés de sugerir apenas que ela saia e se mexa, ofereça-se para estar junto, em uma caminhada, por exemplo. Se na sua cidade tiver uma área verde ou for no litoral, o contato com a natureza pode ser melhor. Ir ao shopping não é atividade física, é bom lembrar – e, dependendo, pode até piorar os sentimentos, se a pessoa estiver dificuldades financeiras, por exemplo. Se ainda assim, ela não quiser, tudo bem. Fique junto, não fique dando sermão a respeito.
- Observe as mudanças de comportamento. Alguns podem indicar que a pessoa cogita em suicídio, como por exemplo maior consumo de drogas e isolamento social. Mas nem todas as pessoas deprimidas têm ideação suicida, portanto, aprenda a reconhecer os indicadores e, por mais difícil que seja abordar o assunto, pergunte sobre a sua intenção. Abordar o assunto não predispõe a tentar, como leigos acreditam. Pelo contrário, pode ser um grande alívio sentir que alguém compreende a dor. E você pode estar mais presente ou solicitar ajuda de outras pessoas no cuidado e, em casos mais graves, buscar uma internação. No início de julho, as ligações para o CVV (Centro de Valorização da Vida) passaram a ser gratuitas em todos os estados do Brasil. Informe o telefone – 188 – e deixe-o em um lugar visível, para os momentos em que você não estiver por perto e os sentimentos e pensamentos parecerem insuportáveis.
Na tentativa de “animar” quem está em depressão, diz-se muita coisa que não ajuda em nada – pelo contrário. Mais uma vez, é importante frisar que você deve se informar sobre os sintomas. Não os desqualifique e nem tente ‘minimizar’ ou ‘consolar’. Infelizmente, muitas pessoas só entenderão ou aceitarão que depressão não é ‘falta de Deus’, ‘ingratidão’ ou ‘vontade de chamar a atenção´, quando elas mesmas sofrerem. Também não basta pensar ‘positivo‘. Aliás, nem se consegue!
Psicoterapia
Aaron Beck criou a Terapia Cognitiva ao perceber a estreita relação entre a qualidade dos pensamentos e a depressão. Mais recentemente, Beck trouxe novas contribuições, propondo a Teoria Integrativa da Depressão, que une as perspectivas clínica, cognitiva, biológica e evolutiva para melhor compreender a depressão.
Qualquer pessoa pode entrar em depressão em algum momento da vida. Até mesmo você. A partir do primeiro episódio, as chances de novos episódios aumentam. Por isto, não tripudie. Não demore a procurar ou oferecer ajuda. Muito já se avançou nos estudos e duas abordagens psicoterápicas têm obtido excelentes resultados, algumas vezes em paralelo ao tratamento medicamentoso: a TCC (Terapia Cognitivo-Comportamental) e a ACT (Terapia de Aceitação e Compromisso) no tratamento da doença. Recursos hoje não faltam – procure ajuda especializada, o quanto antes.
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Thays Babo é psicóloga clínica, Mestre pela Puc-Rio, com formação em TCC pelo CPAF-RIO e extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP). Atende a jovens e adultos em psicoterapia individual, terapia de casal e pré-matrimonial, em Copacabana.