Não é preciso ser cientista social para observar a instabilidade das relações amorosas contemporâneas. O amor mudou. A tecnologia digital, que chegou para ficar, trouxe mais insegurança para quem está em um relacionamento amoroso – e também para quem está à procura de um. Os aplicativos de relacionamentos (apps) vieram para ajudar. Mas têm gerado muito estresse. 

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Zygmunt Bauman, sociólogo e filósofo polonês, foi bastante feliz ao estender o conceito de ‘liquidez’ ao amor contemporâneo. O termo  amores líquidos surgiu antes das redes sociais, como o Facebook e Instagram, e dos aplicativos de relacionamento, como o Tinder e Happn.

Da mesma forma que é fácil  escolher e encontrar  possíveis parceiros, no mundo inteiro,  em poucos minutos, também se pode deletar. 

Tudo de forma rápida, instantânea, bloqueando ou simplesmente ficando sem responder as mensagens. Bem diferente do que era romper um relacionamento na era analógica, quando o amor se olhava mais nos olhos do que nas telas.

Valores essenciais: liberdade x segurança 

Bauman fala de dois valores essenciais: liberdade e segurança. E explica e como estes geram sentimentos ambivalentes. Em um relacionamento amoroso, liberdade é considerada  uma ameaça para os casais. Mantida,   seja por ideologia ou para manter a excitação do novo,   a ‘segurança’ e ‘estabilidade’, características dos antigos relacionamentos, são sacrificadas.  

Na sociedade digital, é muito mais fácil romper,  ‘deletar’ relacionamentos. Antes, morando em pequenas cidades, expostos ao julgamento de parentes, vizinhos e amigos, as  escolhas eram restritas, restringindo-se assim a liberdade.

Mas, apesar da crescente liberdade,  será que as expectativas amorosas dos jovens são muito diferentes das que seus pais tinham?

O amor e a necessidade de controle  dos jovens – controle e disfarce 

Segundo Helen Fisher, as expectativas e desejos são os mesmos de sempre. Mas são inconfessáveis, muitas vezes, para si e para os amigos, diante dos se disfarçam os sentimentos, para não ser alvo de ‘zoação’. 

A turma de amigos – conectada todo o tempo – testemunha e  acompanha seus passos amorosos pelas redes. Talvez seja pelo medo de se expor que se quer  tanto controle nas relações amorosas.

Por exemplo, no simples uso que se faz do whatsapp, há uma ‘etiqueta’. Mandar uma mensagem por texto (texting) é um comportamento aceitável mas, por  áudio, ‘é muita exposição‘ – demonstra muita intimidade e é um passo grande.

E telefonar? ‘Nem pensar‘. Assim,  indicadores importantes da qualidade da relação, como o tom de voz, ficam perdidos. Os emojis – tão limitados! –   substituem conversas  que poderiam dar muitos sinais de como está a relação.

E tal sintetismo abre margem grande para interpretações erradas. Dependendo da pessoa, daí podem surgir  1001 ruminações.  E teria sido tão mais simples perguntar, não? Bom, talvez não para todas as pessoas. 

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O que o amor perde na era digital

E o que se tem perdido? Contato e intimidade. Desde o olho no olho até o tocar.

As gerações  que já nasceram conectadas perderam etapas valiosas do enamoramento e sedução.  

Apesar de parecerem  ‘descolados’, os jovens, ao assumirem uma postura  defensiva, aparentam ser mais frios ou inseguros. Não ousam demonstrar sentimentos e não  querem entrar em contato com o sofrimento, ainda que offline. Muitos, diante de uma decepção amorosa, se jogam em outra história, para não mostrar fragilidade.

Os riscos da falta de amor

A grande contradição é que, pelo menos no Brasil,  os comportamentos sexuais de risco não diminuíram. O medo de se infectar diminuiu, o problema não é o vírus: é se mostrar vulnerável. De abrir  a vida para outra pessoa, deixando-a entrar.

Com o  medo da rejeição, criam-se as condições ideais para que ela aconteça. Assim, as pessoas se esquivam de experiências emocionais que trazem  amadurecimento. Mas continuam sentindo falta do contato de pele e por isto muitas vezes entram em situações de risco, para suprir carências emocionais.

Relacionar-se deve – ou ao menos deveria – implicar em confiar.

“Se você não se curar do que te feriu, vai sempre sangrar em cima de pessoas que não te cortaram”

E o que fazer? Antes de querer se relacionar amorosamente, é importante saber com o que você quer se comprometer na vida. Quais são  os seus valores, realmente? E quais são os impostos pela família – ou pela sociedade?

Não tenha medo de olhar  sua história pessoal e buscar ajuda para superar traumas, não os projetando em uma outra pessoa.  Muitas vezes a necessidade de  controlar o tempo todo – ou se deixar  controlar – tem a ver com histórico familiar ou mesmo por uma traição não resolvida.

Ao mesmo tempo, o medo de mostrar insegurança e sua vulnerabilidade não permite que as pessoas se abram e se exponham, com medo de serem julgadas. Ou motivos de chacota.

Para  manter a pose de inatingível, o relacionamento pode ser prejudicado. 

 Terapia de Casal e Terapia Pré-Matrimonial

Na terapia de casal ou na terapia pré-matrimonial, os valores serão trabalhados, a fim de estabelecer o que é ou não aceitável para as pessoas. Ao conhecer mais profundamente a história do(a) parceiro(a), atinge-se maior compreensão e empatia. Acordos poderão ser feitos, outras perspectivas são descobertas e,  assim, o compromisso amoroso terá mais chances de ser satisfatório, contribuindo para que a vida, como um todo, seja mais valiosa e valorizada. 

Thays Babo (CRP 05/23827) é  Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio, com formação em Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) pelo CPAF-RIO e Terapia do Esquema, pela Wainer Psicologia. Tem também  extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) pelo IPq (USP).

Atende a jovens e adultos em terapia individual, de casal e pré-matrimonial, em Copacabana e  on-line.

Amor nos tempos dos apps

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