“Eu tenho pressa e tanta coisa me interessa” é um refrão de uma música de sucesso do grupo Kid Abelha,  do início dos anos 80, portanto, bem antes do surgimento da internet. Mas nela, os compositores já relatavam a ansiedade de informação e a aceleração da vida cotidiana.

Muitas coisas mencionadas na letra já não existem, como a “Crítica do Leitor” – uma sessão do Jornal do Brasil, na qual se opinava sobre  filmes em exibição. Substituídos pelos comentários nos blogs de cinema, muitas vezes pessoas que querem apenas atacar – os haters – ou fazer divulgação pessoal modificaram a função inicial.

Ir ao cinema também não é mais um hábito comum  para as  gerações mais jovens, que substituem a telona  por sessões domésticas, graças à  Netflix e outros streamming. A opinião de outros usuários é acessável – mas também muito manipulada. 

Algumas das razões para a mudança de comportamento do lazer são a violência, trânsito, diminuição do número de salas e também o custo, para muitas pessoas. Porém,existem consequências para este isolamento. Houve uma piora na saúde mental da população; afinal, o ser humano é um animal social.

Outro hábito citado na canção: o envio de cartões postais. Os cartões caíram  em desuso, com o surgimento do correio eletrônico. Não é mais necessária a  longa espera nas filas do correio. Não acontece mais a situação da pessoa voltar de viagem antes do recebimento do cartão.

Os smartphones e as selfies tornaram possível o  compartilhamento imediato das aventuras vividas, se a pessoa assim quiser – com benefícios e prejuízos da super exposição. 

Consequências da tecnologia

O surgimento da web agravou em muitas pessoas a necessidade de estarem bem informadas, up to date. Muita gente fica conectada, on-line, 24h por dia. 

A ‘ansiedade de informação’  já existia, é bem verdade,  mas, a partir da criação da  internet, se expandiu a níveis globais. Quem não está  ‘por dentro’ de tudo,  não sabendo do que se passa no mundo, se desvaloriza. Perde não só no mundo do trabalho, mas em todas as áreas da vida. E pode ser mal visto por colegas.

Olhando pra fora e esquecendo do que está por perto

Acontece que muita gente pode saber muito do mundo lá fora sem saber o que se  passa com o/a  parceiro/a, com   filhos ou  pais.  mas nada ‘queima mais o filme’ do que não acompanhar os passos dos líderes mundiais, dos escândalos de corrupção no Brasil, e até fofocas com o troca-troca das celebridades – que, muitas vezes, dão o tom cômico do dia.

O impacto do Google no conhecimento, no jornalismo e na educação

Google virou verbo em inglês: I googled it – “eu pesquisei”. Com isto, as bibliotecas físicas tendem a desaparecer (bem como as livrarias). Via Google e redes sociais, busca-se sempre a última notícia, o que acabou de acontecer e nem teve tempo ainda de ser devidamente apurada. Tanta rapidez tem suas consequências, nem sempre positivas.

Qualquer pessoa, com acesso à rede, pode gerar conteúdo. Tamanha   democratização da informação traz um ‘efeito colateral’: a baixa qualidade do que é publicado. O “recorte e cole” possibilita que a informação seja reproduzida em escala global, instantaneamente, sem  ser conferida, o que pode ser um grande risco, a nível mundial.

Há alguns anos o ex primeiro ministro Tony Blair usou uma informação vinda de  um assessor que pesquisou online e lançou uma informação errada. Tempos depois,  uma brasileira radicada na Suíça, que declarou ter sido atacada por neo-nazistas. No afã da mídia dar a notícia em primeira mão, quase se gerou um incidente diplomático – afinal, acreditaram de primeira nela. O caso é triste, provavelmente indica um transtorno psiquiátrico. Gerou  vergonha para brasileiros residindo no exterior, constrangimento para o governo, piadas…

Hoje os jornais recebem informações e fotos de qualquer pessoa. Antigamente, para participar dava mais trabalho, tinha de se ir ao correio – e isto por si só já era um ‘filtro’ de qualidade.  

Além disto, programas de manipulação de fotos e de vídeos podem alterar completamente a verdade. Se você ficar o tempo todo online, buscando se informar, provavelmente irá causar prejuízos à sua saúde mental. 

Encontre o equilíbrio. Procure ajuda psicológica e vamos falar sobre a sua ansiedade e como lidar com ela. 

Thays Babo é Psicóloga Clínica, Mestre pela Puc-Rio, com formação em TCC e extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP). Atende a jovens e adultos em terapia individual, de casal e pré-matrimonial,  em Copacabana.

“Eu tenho pressa e tanta coisa me interessa”

4 ideias sobre ““Eu tenho pressa e tanta coisa me interessa”

  • 29/04/2009 em 16:24
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    oi Thays!! Vc pediu comentários e lá vou eu….rs. Elogios à parte, nós que somos Comunicadores, lemos, relemos, vemos, assistimos, ouvimos…. muita coisa e é bom…. mas ler textos pessoais, visões pessoais sobre assuntos diversos e sobre o que vivemos é meio chato. Gosto de poesias, poemas, poetas, escritores… mas psicanalistas escrevendo… tem que se preparar o cérebro pra receber uma carga de informações, ler e pensar, organizar os pensamentos, compreender e entender o que está se querendo dizer. Refletir e deixar guardado e ir vivendo… Ler é diferente de se conversar, bater papo e discutir sobre as coisas. Tentar escrever o que se pensa é complicado. De tanto se explicar acaba se tornando chato, melhor é mesmo um papo regado à chopp a noite toda….rs. A gente começa um assunto, num instante passa pra outro e assim vai. É legal ter um blog pra dar uma aliviada no nosso eu interior… já pensei em ter um blog mas tempo é uma coisa que eu não posso perder escrevendo coisas que nem eu mesmo entendo…rs. Parabéns Thays pela sua iniciativa… Beijos mil..!!!!!!!!!!

  • 29/04/2009 em 16:24
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    Concordo, Makita! ainda bem que eu não psicanalisei nada… Até porque seria mais caro ! kkkk Não, na verdade, sou psicóloga mas não psicanalista. Mas não vou ficar me explicando muito não se não você confirma sua afirmação e vai se entediar! Apareça pro chope!

    🙂

  • 07/05/2009 em 16:24
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    Tb acho que há uma ditadura de que vc precisa saber tudo …Mas, eu não me cobro isso não, alías, parei de ver Jornal Nacional há algum tempo, cansada de tanta desgraça. Semana passada, cancelei a assinatura do Jornal, pq pilhas e pilhas se formavam sem ser tocadas…O cansaço imperou …. Já fui muito mais por dentro das noticias do que hj…Não me cobro mais isso…

    Sou a favor dos trabalhos escritos…Esta garotada não sabe mais escrever, já percebeu?

    Quanto a ditadura da opinião, o tema da Marcia, eu acho que ninguém é dono da verdade. Ninguém tem o poder da segurança em mãos a ponto direcionar as coisas…Cada um tem a sua verdade, a sua opinião, mas quando a pessoa não consegue lidar com opiniões contrárias, já é caso de tratamento na minha opinião, pq demonstra o egocentrismo em nivel patologico, a pessoa é incapaz de perceber o outro. E isto não é saudavel. O debate é bom pq a troca é positiva, sempre, podemos mudar de opinião, olhar as coisas por um outro prisma nunca percebido antes, enfim, é ótimo, até para reforçar sua antiga opinião sobre algo…

    Caramba, como repeti a palavra opinião..rs….

    Bom é isso!
    Valeu Thays!

  • 07/05/2009 em 16:24
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    Pois é, Luciana, também já cancelei minha assinatura de jornal – que já era só de 6a a domingo. Quando lembro, compro para ver a programação cultural do final de semana. E também a informação impressa já tem nascido velha, então a tecnologia digital vai substituir este tipo de informação superficial que a gente precisa para sobreviver.

    Quanto aos telejornais, também tenho evitado ao máximo! Além de gerenciar o tempo , a gente tem de cuidar também da ‘qualidade’ do tempo investido e, sei não, mas tanta desgraça deve ter impacto no aumento da ansiedade, do pânico, do abuso de drogas etc.

    Beijos, obrigada pela visita e valeu pelo comentário !

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