Ansiedade, juntamente com a depressão, é um dos principais problemas de saúde mental na sociedade contemporânea. E continua crescendo vertiginosamente.

O Brasil é o país mais ansioso do mundo, segundo dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2019.  Por isto, aprenda a lidar com a sua ansiedade. Existem muitos recursos para isto – a medicação, a psicoterapia e a meditação formam um combo poderoso, muitas vezes.  

Ansiedade

Afinal, é praticamente impossível eliminar a ansiedade. E nem seria desejável: ela surgiu e existe para nos proteger dos riscos de morrer.

É uma  estratégia de sobrevivência, surgida há milênios, que nos foi “transmitida”, por nossos antepassados.  Somos, pois,  descendentes de pessoas ansiosas que sobreviveram. Por se recolherem mais cedo às cavernas, fugindo de predadores, não foram devoradas. Seus genes foram passados e pudemos nascer.

Assim, faz parte da nossa educação, desde crianças, aprender a reconhecer os perigos, nos tornando mais atentos. Hoje, vivendo em grandes centros urbanos, nossa  mente às vezes não consegue distinguir quando a ansiedade é ‘necessária’ e ‘útil’ ou quando é totalmente ‘inútil’, só impedindo a vida.

Como a psicoterapia pode ajudar

Em psicoterapia, você  pode aprender a regular suas emoções. Você aprende a conviver com a ansiedade, sem entrar em pânico. Como?

Inicialmente, através da psicoeducação, você aprende a  distinguir e compreender os  estímulos que disparam a ansiedade. Entende a sua função.

Entende também que a ansiedade tem um tempo, um ciclo. A partir daí, há um  treinamento para a  regulação das emoções.

Quando a ansiedade é útil

A ansiedade pode ser útil em situações de risco real ou quando se têm que tomar decisões complexas, que envolvam decisões existenciais. Nestes casos,  é ‘normal’ e até esperada.

O problema é quando ela surge em situações simples e banais – como ir a uma festa ou apresentar um trabalho de grupo, ou frente a qualquer frustração.

Quando passa a limitar a vida da pessoa, paralisando-a e restringindo sua liberdade de ação e de ir e vir, passa a ser patológica. Por isto é fundamental  aprender a lidar  com ela, distinguindo a ansiedade “útil” daquela que só  traz prejuízos, mantendo-a  em níveis ‘aceitáveis’, que não impeçam você de viver.

A animação Piper, da Pixar, é excelente, quando mostra justamente a ansiedade impedindo o aprendizado e o crescimento. 

A ansiedade vista nas redes sociais

Nas redes sociais, muitas imagens e textos definem a ansiedade  como ‘excesso de preocupação com o futuro‘, causando  certa  confusão entre ansiedade e expectativa.

A ansiedade está mais para esperar o pior, algo negativo. Os pensamentos são catastróficos, trazem  medo. Paralisam e tolhem a iniciativa pessoal. Restringe a vida.

A pessoa ansiosa evita situações para não entrar em contato com os pensamentos e emoções negativas. É o que chamamos de esquiva experiencial.

A esquiva experiencial mantém as crenças. Se a pessoa conseguir enfrentar, experimentar situações que desmentirão o que se pensa catastroficamente.

pensamentos negativos

Assim, ao fugir das situações em que se pode ter contato com a ansiedade  os  temores não são desmentidos.

Pelo contrário, quanto mais se foge da situação, mais se reforça o comportamento de evitação, já que não houve como ter uma experiência positiva que desmentisse o pensamento inicial.  

A ansiedade como padrão da família

Além dos nossos ancestrais, a família de origem  muito ansiosa pode passar a mensagem de que ‘o mundo é perigoso‘ ou que ‘pessoas não são confiáveis‘, dentre outros. Os cuidadores diretos, em especial o pai ou a mãe, são influências importantes.

Claro que você pode ter vivido uma situação pessoal, próxima,  que deixou lembranças traumáticas. É um padrão difícil de ser  ‘quebrado’. A conscientização  e a aceitação são as melhores estratégias para lidar com ela.  

Quem faz parte da geração Millenial tem maior chance de sofrer de ansiedade, segundo estudos mais recentes. Esta geração é muito voltada para o sucesso profissional, para a competitividade. Pais e mães superprotetores, ou pais “helicóptero”, não deram as condições para desenvolver a resiliência necessária. 

Aceitação da ansiedade

As pessoas ansiosas, ao perceberem que muitas das suas preocupações não se concretizam, ao invés de relaxarem, começam a se julgar. Julgam-se com “defeito”, “fracas”, “covardes”. Sentem vergonha. 

E aí começam a tentar controlar, pensando “não posso sentir ansiedade” ou “vou ter uma ataque de ansiedade“. Estendem a tentativa de controle às outras pessoas. E mais  ansiedade sentem.

É preciso ter autocompaixão e entender que a ansiedade surgiu como proteção à sobrevivência. Mas não necessariamente se submeter à tentativa de controle. 

Podem surgir  sintomas físicos. Os mais comuns são a alteração na respiração (que costuma ficar mais curta), taquicardia, tremores.

Como tratar

A ansiedade faz parte do quadro de vários transtornos como, por exemplo, Síndrome do Pânico, Fobia Específica, Fobia Social, Estresse Pós-Traumático e Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG). 

No DSM-V, o capítulo  sobre Transtorno de Ansiedade traz algumas mudanças nos critérios diagnósticos. O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), o Transtorno de Estresse Agudo e o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) foram realocados em novos capítulos.

Pesquisas mostram que o tratamento medicamentoso da ansiedade costuma ser mais eficiente quando combinado com a psicoterapia, que atua, muitas vezes, de forma preventiva.

Infelizmente, muitas pessoas se (auto)medicam,  ou ficam repetindo as receitas passadas em um momento de crise, porque imaginam que não suportarão a ansiedade. Não se preparam para lidar com a situação ansiogênica.  

Psiquiatras cada vez mais  indicam atividades físicas (aeróbicas), mudanças no estilo de vida e também a meditação como aliada no tratamento dos transtornos de ansiedade.

Apenas usar medicação pode, de certa forma, ser considerada uma fuga, se as outras recomendações médicas não forem adotadas. 

Abordagens psicoterápicas

Duas linhas de terapia têm conseguido bons resultados, comprovados em pesquisas, no tratamento da ansiedade: a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e a a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT).

Com a  TCC, a pessoa ansiosa aprende a reconhecer seus padrões cognitivos e, ao identificar os pensamentos e situações que são “gatilhos”, passa a lidar melhor com eles, podendo ter comportamentos diferentes. Esta abordagem trabalha com a reestruturação cognitiva, entre outros recursos. Há  uma técnica específica, para situações de pânico, bastante eficiente, chamada A.C.A.L.M.E.-S.E. 

Muito indicada por psiquiatras, pelo grande número de estudos científicos publicados, a TCC tem bons resultados no tratamento da ansiedade e de outros transtornos psíquicos.

A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), aos poucos, também vem se tornando conhecida, sendo também  uma abordagem com eficácia comprovada no tratamento da ansiedade, dentre outros problemas. A abordagem da ansiedade é diferente da TCC: ao invés de fazer a reestruturação cognitiva, trabalha-se a aceitação da ansiedade, sem alimentar o auto julgamento ou tentar “consertar” a mente. Só observando os padrões, sem precisar intervir, a ansiedade pode ser suportada – e com isto, pode diminuir. Um dos seus criadores, Steven Hayes, tem uma palestra TED em que, muito corajosamente, relata a sua própria experiência com uma crise de pânico.  

Se você sofre com ansiedade e percebe o quanto ela prejudica seus relacionamentos, sua vida profissional ou acadêmica, procure ajuda especializada, profissional.  Faça psicoterapia. 

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Thays Babo é Psicóloga Clínica, Mestre pela Puc-Rio, com formação em TCC pelo CPAF-RIO , extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP) e formação em Terapia do Esquema pela Wainer Psicologia.

Atende a jovens e adultos em terapia individual, terapia de casal e pré-matrimonial, presencialmente em Copacabana e também online.

Ansiedade – quem nunca?