Durante a pandemia de coronavírus, o número de divórcios aumentou no Brasil aumentou cerca de 15%  em relação a 2019. E a violência doméstica também aumentou, não só aqui, mas no mundo inteiro. Provavelmente, muitos destes casais que se separaram não estavam mantendo um bom nível de comunicação. E, com o convívio intenso, a situação ficou mais difícil de ser suportada.

E em muitos casos, a comunicação truncada pode levar à agressão.

A violência doméstica acontece tanto em casais hétero como em casais homossexuais. Muitas mulheres não denunciam na ilusão de que seu par vai se redimir. Até porque faz parte da dinâmica dos abusadores depois querer se retratar e ter a ‘lua de mel’.

Além da violência física, há também violência na comunicação. A comunicação agressiva, depreciativa, pode ser bastante prejudicial à saúde mental e emocional da vítima. É a chamada violência psicológica, que agora será crime no Brasil.

Nâo é só  o relacionamento amoroso que é sacrificado. Quando se tem filhos que testemunham as agressões, a saúde mental destes também é afetada.

E, pior: como os pais costumamser modelos de comportamento, podem  aprender a violência e repetir este tipo de padrão nos seus relacionamentos amorosos futuros.

Comunicação conjugal  não violenta

A forma com que o casal se comunica indica a “saúde” do relacionamento amoroso. Por isto, nas terapias cognitivas, o treino das  habilidades de comunicação tem papel de destaque – tanto na terapia individual quanto na terapia de casal ou na terapia pré-matrimonial.

Os problemas das crenças do amor romântico  

Casais felizes não discutem” é uma das crenças românticas  que mais atrapalha os relacionamentos amorosos. Afinal, diante de  alguma crise ou divergência, o casal pode interpretar, erroneamente, que não existe mais amor.

 Dr John e Dra Julie Gottmann concluíram, após anos observando casais, que a comunicação do par amoroso é um importante indicador do futuro da relação.  Segundo eles,  o que faz a diferença é a forma com que se discute. E que, muito pelo contrário, quando não há discussões, há maior probabilidade de ruptura.

Eles consideram o muro de silêncio um dos quatro cavaleiros do Apocalipse do casamento. Os outros três cavaleiros são o criticismo, a defensividade e  o desdém. 

Portanto,  melhorar a qualidade da comunicação é uma das principais metas da terapia de casal. Assim, torna-se mais fácil resgatar a harmonia e satisfação conjugal. Aumenta a flexibilidade e a comunicação empática

Se o casal está bem,  o bem estar individual também aumenta, se refletindo em diversas áreas, inclusive profissional.

Como lidar com as emoções negativas despertadas pelo seu par?

Um estudo de 2012 mostrou que, apesar de surgirem emoções negativas durante a discussão, como a raiva, é possível, a partir daí negociar.

A comunicação em um relacionamento amoroso pode ser treinada e melhorada, com ajuda profissional.

É preciso reconhecer as emoções, aceitar mesmo as negativas suas e a do(a) parceiro(a). Isto não significa suportar agressões ou violência.

Mas, admitir que todos nós experienciamos emoções negativas nos coloca mais perto da vida real.  Você passa a conhecer melhor o/a parceiro/a e melhora a relação. 

  • Primeiro passo: aceite  que emoções negativas existem, sim. Por si só, elas não são ruins. Elas vêm e vão, são  temporárias. Quando reconhecidas e aceitas, é possível modificar os comportamentos que as despertaram;
  • Segundo passo: desenvolva seu autocontrole. Você não precisa reagir a tudo o que foi dito imediato. Peça um tempo maior para voltarem ao assunto;
  • Terceiro passo: desenvolva a escuta empática, atenta. Ouça tudo antes de responder.

Aceitação e autocontrole  parecem impossíveis para você? Algumas abordagens, como a Terapia de Aceitação e Compromisso, ajudam a desenvolver estas capacidades.

Aprendendo a regular suas emoções,  o casal desenvolve uma escuta amorosa, não defensiva, atenta. O casal entra em contato com seus valores e (re)aprendea se comunicar.

Comunicação não violenta

Em matéria da Times, especialistas apresentaram algumas  sugestões para que as discussões sejam saudáveis. Elas estão resumidas abaixo. 

  • Tenha curiosidade sobre suas discussões – algumas são repetitivas, seguem um padrão e um script .  Podem acontecer sempre diante das mesmas condições. Uma situação comum é quando uma das pessoas chega em casa, exausta do trabalho e a outra, querendo total atenção, a acusa de descaso e insensibilidade;  
  • Aceite que o tema é importante para discutir, mas se não estiver com paciência, agende um horário para isto. Às vezes, adiar a discussão ajuda a enxergar o problema de forma mais racional. Baixando o tom emocional fica mais fácil solucionar o conflito. (Algumas pessoas terão mais dificuldade de autocontrole, mas é importante que aprenda a colaborar para a relação);
  • Se a discussão já começou, mas você percebe que seu par (ou você) perdeu o controle, peça um tempo para voltar à discussão depois. Reassegure que não está abandonando a discussão ou o par, mas que é importante acalmarem os ânimos. (Isto é especialmente importante se você ou seu par tiver usado álcool ou outra substância entorpecente, tente mesmo adiar a discussão – observação minha). 
  • Ao invés de criticar e reclamar, faça sugestões ou pedidos. Evite generalizar.  “Você sempre” ou “você nunca” são exemplos de generalização que podem fazer com que a outra pessoa se sinta injustiçada. Parece que ao destacar o negativo, não percebe o positivo, que pode ter sido com esforço. 
  • Quando for o momento da discussão, ouça atentamente, sem interromper.  Se você se sentir injustiçado(a) pode vir a tentação de interromper, mas controle-se. Saiba ainda que, se seu(sua) parceiro(a) sofre de algum transtorno psíquico, ele(a) pode ser mais impulsivo(a) e falar sem refletir. Se o que a outra pessoa falou não faz sentido, peça maiores detalhes para tentar esclarecer. Mostre-se com plena atenção – e não se distraia com celular, por exemplo. 
  • Não xingue (aliás, esta condição é básica, deveria ser seguida desde o início da relação). Se as ofensas continuarem, pare até que se acalmem e restabeleçam um clima de respeito. 
  • Aprenda a pedir perdão se perceber que errou ou que a discussão não vale a pena. Cada pessoa tem sua forma de perdoar (assim como também existem diferentes formas de demonstrar amor). Preste atenção em como seu par reage.
Terapia de Casal e Terapia Pré-Matrimonial

Muitos casais se separam sem terem tentado ajuda profissional. Jogam a toalha, muitas vezes por manterem as tais crenças românticas. Durante a pandemia, os procedimentos jurídicos foram facilitados. Mas é uma pena não tentar resolver se ainda há amor.

A terapia de casal pode ajudar a solucionar os problemas para construir uma relação satisfatória. 

Antes mesmo de casar, a terapia pré-matrimonial já possibilitaria que se conhecessem muitos problemas originados nas experiências vividas na infância. Estas experiências deixaram marcas, esquemas disfuncionais.

Dores do passado podem ser ativadas no relacionamento a dois

Necessidades emocionais que não foram atendidas quando você era criança ou adolescente muitas vezes deixam marcas. Estes formam esquemas mentais . E podem reaparecer quando a gente menos espera, nos  relacionamentos íntimos.

Seu par amoroso   ativa, sem sequer estar consciente, estes esquemas. Aí vem com aquela reação que parece infantil e desproporcional. É o nosso lado infantil, que se sente deixado de lado ou criticado.

Terapias de casal, em especial a Terapia do Esquema para Casais,  facilitam o reconhecimento destas  experiências que despertam a vulnerabilidade. E pode tornar a  relação amorosa  mais saudável. Até mesmo curativa.

Tais necessidades iniciais, que não foram atendidas na infância podem, agora, ser supridas.

Para isto, deve haver consciência de cada um do que o outro espera do relacionamento. E um maior cuidado com a comunicação, que pode unir ou separar. Esta habilidade é possível de ser aprendida.

Não desista fácil do seu relacionamento.  Reflita sobre o que uniu vocês inicialmente. O que encantou você?

Se seus valores  são parecidos, se querem coisas parecidas para a vida, tente renovar o compromisso. Tenha consciência de que divergências podem existir mas que respeito pelo outro é fundamental. 

Procure ajuda psi. Faça terapia de casal ou pré-matrimonial.

Referências

Beck, A. T . Love is never enough. New York: Harper & Row. 1988.

Harris, R.  Act with love: stop struggling, reconcile differences and strenghten your relationship with acceptance and commitment therapy . Oakland: New Harbinger Publications, 2009.

Lev, A., McKay, M.  Acceptance and commitment therapy for couples : a clinician’s guide to using mindfulness, values & schema awareness to rebuild relationships. Oakland: New Harbinger Publications, 2017

McKay, M.  Couple Skills (2nd Ed): making your relationship work. Oakland: New Harbinger Publications, 2006

Walser, R. D; Westrup, D . The mindful couple – how acceptance and mindfulness can lead you to the love you want. Oakland: New Harbinger Publications, 2009.

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Thays Babo é psicóloga (CRP 05/23827) e publicitária.  Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio, com formação em TCC pelo CPAF-RIO e extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP). Atualmente cursa a formação em Terapia do Esquema, pela Wainer Psicologia.

Atende jovens e adultos em terapia individual, de casal e pré-matrimonial,  em Copacabana. Durante a pandemia, os atendimentos serão prioritariamente online.

Comunicação conjugal

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