Não tem jeito: quem já passou dos 50 se questiona sobre envelhecimento. Pode ter conseguido até então driblar esta realidade, mas crises – muitas vezes conjugal, outras profissional, ou mesmo alguma doença – teimam em trazer para o foco a pergunta: “E agora – o que fazer?”. É a hora em que muita gente se pergunta: devo ir atrás dos projetos não realizados ou abandoná-los de vez?

Sem achar uma resposta agradável, algumas pessoas emburacam em uma depressão. Outras resolvem sair pela vida, atrás dos projetos perdidos, de forma tresloucada. Às vezes o momento de crise – pra cima ou pra baixo – é que vai permitir que a pessoa se reestruture. Ou não… Na dúvida, ou na crise, quem não consegue força internamente para superar-se, deveria buscar ajuda. Elaborando conteúdos não encarados até então pode-se então estabelecer novos projetos. O tempo que se apresenta à frente – que nunca, ninguém, saberá ou poderá dizer se é longo ou curto, até porque o tempo é relativo – é para ser aproveitado. E a cada um cabe saber como lhe apraz viver o seu. Mas o conselho ‘conhece-te a ti mesmo’ é condição básica…

Que fique bem claro: Late Bloomers NÃO é uma comédia romântica, como algumas críticas podem querer mostrar – muito pelo contrário. É um drama, acridoce, delicado, de Julie Gavras – a mesma diretora de A culpa é do Fidel!. A filha de Costa-Gavras, mais uma vez, fez um belíssimo trabalho, delicado. Sem deixar ninguém que esteja nesta fase da vida deprimido, brinca, fazendo o contraponto entre o jovem e o velho. Alguns críticos ficaram decepcionados com isto, acusando a diretora de ser superficial. Ora, bolas, ela não tem este direito? Quem sabe não é uma boa estratégia de aproximação com os atuais jovens?

Os espectadores podem se questionar: “E agora? vamos nos deixar envelhecer – e cristalizar? Ou vamos rejuvenescer?” – ainda que em outras bases… Qual o limite entre se prevenir, se cuidar e emburacar em uma depressão? Como não se tornar um/a velho/a ‘risível’? É possível envelhecer e continuar atraente? Enfim, como enfrentar o envelhecimento?

Quem tem estas respostas? Médicos? Psis? Talvez ninguém – ou cada um, independente do ‘notório saber’. É mais uma questão de sabedoria e amadurecimento. Que não tem nada a ver com idade cronológica, diga-se de passagem. Vamos à resenha. Se você ainda não viu o filme, melhor parar e voltar depois, porque tem uns spoilers.





Adam (William Hurt) e Maria (Isabelle Rossellini) estão casados há mais de 30 anos, têm três filhos adultos e agora moram sozinhos – aparentemente na Inglaterra. Adam é bem reconhecido profissionalmente, Maria já parou de trabalhar. Na cena inicial, vemos que ele acaba de receber um prêmio pelo seu trabalho. Maria está atônita. Passam uma noite em um hotel e ela tem um lapso de memória, que dispara em Maria uma angustiante constatação: eles são velhos. E agora? Maria começa a superdimensionar sintomas onde não tem.

Adam, por sua vez, recusa a ideia de que está a um passo da morte que acomete Maria. Da mesma forma, recusa-se a se engajar ‘animadamente’ no projeto desafiador que seu empregador traz: criar e trabalhar em um condomínio para idosos. Definitivamente, o conceito não o atrai. Vemos então que cada um deles elege uma estratégia para lidar com o envelhecimento: Maria se ‘prepara’ para ele – de forma cômica, até, talvez tentando controlar o incontrolável. Já Adam resolve unir-se a uma equipe jovem, para se sentir jovem também. Maria, de certa forma, força Adam a encarar de frente este passar do tempo. Com visões tão opostas e uma enorme dificuldade de dialogar sobre algo amedrontador, tudo embalado na teimosia mútua, o casal entra em crise.

O filme tem uma visão bastante pró-idosos. Julie Gravas brinca com o fato de que alguns jovens podem ser bem burrinhos, não? 😉 Ou só irritantes, na necessidade de serem rápidos demais, eficientes, reproduzindo, sem questionarem o discurso ‘produtivo’ que os jovens ‘do nosso tempo’ não tinham… 😀 Da mesma forma, mostra que alguns podem ser sábios – como os filhos do casal, que estabelecem uma ‘estratégia’ para reaproximar os pais, sem muita interferência.

Quando mesmo que a gente envelhece? Quando a gente se torna saudosista?

Enfim, o filme traz provocações – mesmo para quem não teve filhos ou não casou. Nem sempre as soluções serão fáceis, e não existe uma fórmula. Mas vale a pena começar a pensar no assunto porque o tempo… voa.

Infelizmente, não achei o trailer legendado. Fica como aperitivo, para que busque assisti-lo em um cinema próximo de você. Aguardo seu comentário.





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Thays Babo é psicóloga, Mestre em Psicologia Clínica, atende no Rio de Janeiro

Late Bloomers ou “O amor não tem fim”
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