Milk: a voz da igualdade é um filmaço, baseado na  vida de Harvey Milk. Ao sair do cinema, lembrei da frase de Einstein, dita ainda no século 20: “Tempo difícil esse em que estamos, em que é mais fácil quebrar um átomo do que um preconceito“. É, caro Einstein, de lá pra cá não mudou muita coisa, mesmo depois da curta existência de Mr. Milk…

Milk fez enorme sucesso e conquistou dois Oscars importantes, em 2009: Oscar de Melhor Ator, para Sean Penn, que interpretou magnificamente Milk, e de Melhor Roteiro Original.Deixando a Academia de lado, gostaria de falar do quanto o filme é tocante.

Afinal, quem foi este homem? Confesso que até assistir ao filme, não sabia nada dele.  Muito resumidamente, Harvey Milk foi um dos primeiros ativistas gays. Americano, foi abatido covardemente por um homófobo ao lutar pelos direitos humanos, no final dos anos 70, em São Francisco. Felizmente, sua voz continuou ecoando através de seus amigos, que  se engajaram na causa. Graças a eles, em alguns pontos do globo, não é mais ‘politicamente correto’ pensar em homossexualidade como doença ou desvio de caráter. O ‘politicamente correto’, no entanto, faz algumas pessoas mascararem seu preconceito em público – mas ainda é pouco.

Como psicóloga, ouço relatos sobre a vivência da sexualidade e já ouvi histórias bastante tristes sobre a  incompreensão enfrentada dentro da própria família. Pais e mães espancam ou expulsam seus filhos. Pais e mães não reconhecem suas crias se são diferentes do que esperavam ter.

A ONU e, no Brasil, os Conselhos Federais de Medicina e Psicologia orientam para a não discriminação. Psicólogos que tentem ‘reverter’ a orientação sexual são passíveis de notificação e até cassação do diploma, se forem denunciados. Mas, para isto, a pessoa atendida tem de estar suficientemente bem consigo mesma, para não aceitar um ‘diagnóstico’ de psicopatologia.

Contrariamente ao que homófobos podem pensar, este filme não é exclusivamente para  gays. É histórico, mostra a lenta evolução das mentalidades, mostra o quanto se deve lutar pelo respeito às diferenças – sejam elas quais forem.

Muito se confunde ainda homossexualidade com criminalidade. Há quem ache mesmo que homossexuais são pervertidos, que são todos pedófilos. Este preconceito acaba iludindo : a cada dia se recebem notícias mais estarrecedoras, de parentes próximos –  pais, avós, tios, padrastos – héteros – abusando das crianças, sem nenhum traço de homossexualidade que reforçasse a suposta e alardeada ‘perversão’.

O discurso pretensamente religioso de muitos homófobos – e que aparece no filme, através de duas personagens – seria engraçado, se não desse tanta margem a mortes violentas e tristeza. Usar o nome de Deus em vão não é pecado, não os assusta? Os suicídios e mortes violentas, assassinatos, não são uma ‘maldição’ lançada sobre homossexuais. Na verdade, se ocorrem, é pela  dificuldade de convivência com o que é diverso. Deus não tem nada a ver com a crueldade humana.



É interessante também quando Milk, em um debate com um conservador, rechaça a ideia de que, ao conviver com alguém de uma orientação sexual diferente da sua, alguém muda de orientação sexual. Ele diz: “Meus pais eram heterossexuais”. 😉

Apesar de, cinematograficamente, Milk não ser nada excepcional (fora a atuação de Sean Penn), é um filme que deve ser visto. Ajuda a  refletir sobre preconceitos que persistem. Ajuda  a conversar com os jovens que nos cercam sobre sexualidade, política, direitos humanos. Pode inclusive ser um bom recurso didático para discussão em sala de aula. Afinal, assassinatos de homossexuais não ficaram restritos àquela época. E nem aos Estados Unidos. Até hoje, há grande número de mortes anualmente no Brasil. E são crimes que muitas vezes não são resolvidos, não são punidos e que são praticados justamente por intolerância. Tudo isto contribui para que, além dos homicídios, muitos se suicidem ao invés de assumir e
lutar contra o preconceito.

Mais do que uma opinião minha, gostaria que o post promovesse um debate. Fica o convite. Divulguem.

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Thays Babo é psicóloga clínica, Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio e atende no Rio de Janeiro

Dando voz à igualdade

2 ideias sobre “Dando voz à igualdade

  • 26/04/2009 em 16:24
    Permalink

    Pietro, a crítica que você indicou é muito boa – e deixa eu te confessar: não conheço profundamente a obra de Van Sant. Então, quando eu disse que não era ‘cinematograficamente’ excepcional não foi em função de uma análise comparativa com outros filmes dele… Foi mais em termos de outros filmes, diretores etc, considerando roteiros, edições e efeitos fantásticos e mirabolantes…

    A partir do seu toque, vou repensar, como leiga que sou. Afinal, se o filme tocou a fundo e me emocionou tanto, será que eu deveria ter dito aquilo? Talvez não…

    Obrigada pelo comentário!

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