Desde o final do século 20, os casais têm tido maior intimidade do que era permitido a seus pais. Podem passar dias inteiros juntos, viajar – o que antes só era permitido em lua de mel. Assim, ainda na fase do namoro já conseguem perceber as dificuldades e diferenças no convívio a dois, diário. Sem saberem se devem ou não ir em frente, casando ou simplesmente ‘morando juntos’, casais jovens têm recorrido à terapia pré-matrimonial.
Por que tanto medo de não dar certo?
O número de divórcios cresce a cada ano no mundo todo. No Brasil, dados do Ibge mostram que 1 em cada 3 casamentos termina em divórcio. O medo de fracassar ou de não conseguirem ser “felizes para sempre” pesa.
Histórico familiar – modelos aprendidos
Muitas vezes, tais medos se relacionam com o que cada um vivenciou na relação de seus pais. Se pai e mãe viviam (ou ainda vivem) infelizes, uma das duas pessoas (ou ambas) pode temer repetir a infelicidade parental.
Por outro lado, pais muito harmonizados, que passaram a imagem de casal ‘perfeito’, também podem causar a insegurança. Às vésperas de assumirem o compromisso, os jovens se perguntam: “será que eu também conseguirei ficar casado/a ‘para sempre‘?”.
Então, tanto pode ser o medo de ser abandonado/a ou traído/a como também o medo de não ser perfeito/a.
Cuida-se muito com a cerimônia – mas nem tanto da relação
Porém, apesar de muitos milhares de reais serem gastos com os preparativos da cerimônia de casamento, não se tem a mesma boa vontade em cuidar da saúde da relação.
Não são raros os casais que se separam antes mesmo de quitarem as despesas assumidas com festa.
E o que impede de procurar ajuda psicoterapêutica antes, para fazer ajustes antes do casamento? Apesar de algumas pessoas alegarem questões financeiras, o estigma parece ser o principal fator.
Amar pode não ser o suficiente, como disse o criador da Terapia Cognitiva, Aaron Beck, para enfrentar os desafios que se apresentam na convivência diária, íntima.
Aliás, será que se é capaz de dar e receber amor? Esta capacidade está ligada fundamentalmente com o quanto se recebeu de amor. A pessoa que teve suas necessidades mais básicas supridas, na família de origem, terá mais facilidade de amar e dar amor.
O que se espera é que o/a parceiro ame incondicionalmente e suporte as adversidades.
Comunicação – a chave para a qualidade da relação
A qualidade da comunicação pode indicar a necessidade de ajuda psicoterapêutica, sendo mais evidente quando é predominantemente agressiva ou sarcástica. Ou quando o casal cada dia se comunica menos.
A Terapia Pré-Matrimonial aumenta as chances de um relacionamento mais satisfatório, pois o par amoroso entende e deixa claro para si
- O que atraiu no/a parceiro/a;
- O que esperam do casamento em si e da vida a dois;
- As expectativas de cada um. Ter filhos ou não (se sim, como educar?), como lidar com as finanças? o que é considerado infidelidade? como serão divididas as tarefas domésticas? o quanto de proximidade/distância em relação à família de origem?
- O que esperam da vida sexual. Por mais que haja maior liberdade, ainda é difícil, para muitos casais, deixar claras as expectativas de fidelidade ou não, de frequência de relações, fantasias etc. Também se pode falar de traumas passados.
A terapia em si
Atualmente, algumas abordagens são integradas, tanto na na Terapia de Casal como na Terapia Pré-Matrimonial: a Terapia Cognitivo-Comportamental, a Terapia do Esquema para Casais e a Terapia de Aceitação e Compromisso conversam bem entre si.
Eventualmente o/a psi solicita sessões individuais, programadas em comum acordo, logo no início do processo de terapia). Há tarefas entre consultas e é importante que ambas as pessoas se comprometam em fazê-las. Também são treinadas habilidades de comunicação (escutar atenta e compassivamente, e também a falar sobre o que incomoda, de forma objetiva, de forma não violenta).
Finalizando: é necessário que ambas as pessoas entendam a importância do tratamento e se comprometam a comparecer juntas nas sessões. E também a executarem as tarefas entre sessões. O grau de adesão ao processo mostra a possibilidade daquele casal conseguir se harmonizar.
Referências
Beck, A. T (1988). Love is never enough. New York: Harper & Row
Harris, R. (2009) ACT with Love: Stop Struggling, Reconcile Differences, and Strengthen Your Relationship with Acceptance and Commitment Therapy. Oakland: New Harbinger Publication.
Walser, R. D; Westrup, D (2009) – The mindful couple – how acceptance and mindfulness can lead you to the love you want. Oakland: New Harbinger Publications.
________________________________________
Thays Babo é Mestre em Psicologia Clínica (Puc-Rio), na linha de Família e Casal. Tem formação em TCC pelo CPAF-RIO e extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP).
Atende a jovens e adultos em terapia individual, terapia pré-matrimonial e terapia de casal, em Copacabana.
Durante a pandemia de coronavírus, todos os atendimentos são online.