Neste post, comento 3 filmes que fizeram muito sucesso na época mas que depois os críticos “esqueceram”… acho que pelo tema: finitude. Só pode ser. O elenco é impecável. Um destes filmes recebeu Oscar de Melhor filme Estrangeiro. Mas, apesar de sabemos que todos nós vamos morrer, em geral as pessoas não gostam de falar sobre isto. Ficam angustiadas. Evitam de pensar e falar sobre o assunto, aqui no Ocidente, até porque foram ensinadas assim. Pais e mães, e outros educadores, evitam o assunto quando as crianças perguntam. Inventam historinhas sobre viagens ou estrelinhas. Enfim… Assim, nos ensinam a não falar sobre.  

Truman

Muitas resenhas classificaram Truman como comédia. Seria uma  ‘negação’, de quem fez a categorização  ou  estratégia de marketing? O filme aborda um tema espinhoso mas deveria ao menos ter sido classificado como comédia dramática. 

Há várias cenas bem humoradas, dosadas certeiramente,  mas fala de nossa terminalidade. Quem assiste não poderá evitar repensar a própria vida. Algo a que fomos forçados a pensar durante a pandemia.

Se você não sabe nada sobre o filme e nem quer ter ideia, melhor parar por aqui. Tentarei não fazer spoiler, mas não tem muito jeito.

Darín interpreta Julían, ator argentino que mora sozinho em Madrid, separado. e que descobre uma metástase de câncer no pulmão. Ele passa a se ocupar de preparativos práticos para quando a morte chegar – como, por exemplo,  arranjar um lar adotivo para  Truman, seu cão e companheiro dos últimos anos.

Ao tomar uma série de providências, Julian assombra a pessoa comum e causa um aperto no coração de quem o assiste. Mas sua postura diante da vida é uma lição. 

Enfim, o filme mexe com quem tem problemas com a terminalidade – mas quem não os tem? Pensar a respeito disto faz você ter uma vida melhor, mais compromissada com o aqui e agora.

Fases do Luto

A psiquiatra suíça Elizabeth Kübler-Ross brilhantemente descreveu as cinco fases atravessadas por pessoas que recebem um diagnóstico de doença terminal.

Nem todo mundo  consegue ir até a quinta – até porque é muito difícil não é muito permitido conversar sobre a morte. Pessoas próximas a quem está morrendo tentam negar a sua percepção, ou se incomodam de falar sobre morte.

Resolver e aceitar a finitude, por mais difícil que seja, abre a possibilidade de terminar a vida bem. E Julian consegue fazer isto – não sem dor, mas com dignidade. O filme não foca nas cenas de hospital, não o vemos em sofrimento físico. Ou seja, o filme vai te acrescentar importantes lições – sem necessariamente trazer muitas lágrimas.

Profissionais da área de saúde – psicoterapeutas e médicos, dentre outros – deveriam assistir,  em especial os que lidam com pacientes oncológicos.

Afinal, eventualmente se deparam com pessoas que fazem perguntas difíceis sobre seus tratamentos. 

A Medicina, cada vez mais avançada, aumenta as possibilidades de diagnóstico e tratamento. Porém, muitos pacientes, familiares e amigos têm a mesma dúvida do protagonista, quando, em algum momento, a morte parece mais próxima do que nunca. E como a encaramos?

Questões éticas e jurídicas estão envolvidas neste tipo de decisão, mas está cada dia mais difundida a ideia do tratamento paliativo e do testamento vital. 

Outras indicações cinematográficas sobre terminalidade

Dois outros filmes tratam sobre a escolha frente à morte, pela não opção ao tratamento médico, convencional. O filme francês E se vivêssemos todos juntos? trata o assunto de forma leve – neste a  finitude vem ao final de uma longa e boa vida. E o elenco conta com O filme conta com as veteranas Jane Fonda e Geraldine Chaplin.

Aborda também o problema da solidão na velhice, com suas questões familiares. Hoje, na Europa, muitos grupos de amigos organizam-se em comunidades como a retratada.

No Brasil, algumas iniciativas já estão sendo pensadas. 

No canadense As Invasões Bárbaras (excelente continuação de O Declínio do império americano, que superou o primeiro filme), o professor universitário Rémy não se conforma com a sua finitude. Lutando com um câncer, ele, um intelectual, não consegue ver sentido na vida e nem na sua morte. 

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Conclusão

Os três filmes trazem lições sobre amizades, relações familiares e – também – profissionais. Agradará a quem não tem medo da vida e consegue encarar de frente a única certeza que temos na nossa vida: em algum momento, ela termina.

Mas ainda há tempo para quem ainda está por aqui. Você ainda pode ter  uma vida significativa.

Se você consegue não ter medo da vida, você aceita melhor a certeza da morte, que não é de todo controlável. E vive melhor.

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Thays Babo é  Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio, com formação em terapia cognitivo-comportamental (TCC),  pelo CPAF-RIO, em Terapia do Esquema, pela Wainer Psicologia, e extensão em ACT (Terapia de Aceitação e Compromisso),  pelo IPq (USP). Atende a jovens e adultos em terapia individual, terapia de casal e terapia pré-matrimonial, em Copacabana ou online.

Encarando a vida nos olhos – filmes preciosos
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