2018 está chegando ao fim. As Festas costumam ser um período muito difícil para muitas pessoas.   Há quem gostaria de poder  dormir dia 23 de dezembro e só acordar dia 2 de janeiro, quando tudo já tivesse passado. Amigos e familiares muitas vezes não entendem e pressionam, cobrando presença. Por não entenderem, criticam e rotulam quem prefere se manter à parte, o que  pode piorar o estado de humor. 

No Brasil, para muitas famílias houve ainda maior estresse  do que o normal da época, pois a campanha eleitoral  presidencial evidenciou muitas divergências. Por conta delas, houve decepções e algumas rupturas. Diferenças de valores, antes ocultadas, ficaram claras.

A quem recorrer

Por ser uma época que coincide com férias, muitos profissionais da área de saúde não atendem nesta época. Mas,  o Centro de Valorização da Vida (CVV) funciona  em sistema de plantão, inclusive durante a noite de Natal e a virada do Ano Novo. A instituição, que é internacional, atende a  inúmeras ligações, no mundo todo. 

O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias.

E por que será que tantas pessoas se deprimem? Por que tantas pessoas cogitam – e tentam – suicídio nesta época?  

Melancolia Natalina

Alguns grupos apresentam mais riscos: pessoas idosas, pessoas que não têm família ou rede de amigos, pessoas enlutadas, pessoas perfeccionistas e autocríticas.

Quem sofreu perdas e separações recentes geralmente não consegue  ver graça em tantas comemorações, que não fazem sentido para elas. É difícil que consigam ficar atentas a  quem está  a seu lado, que por vezes insistem, em tentar animá-las. Anseiam por quem partiu e, olhando o passado, perdem o presente. Ou o comparam e, dependendo da perda, o presente perde seu valor. Dói mesmo. É bem difícil ter de sorrir sob pressão.

Mas, além das pessoas enlutadas, há também quem, nas festividades, ao encontrar pessoas que consideram bem sucedidas, sinta-se um fracasso, desqualificando  suas próprias conquistas e supervalorizando as derrotas. A desvantagem pode ser por não ter conquistado  coisas materiais, que simbolizam ‘sucesso’ ou prestígio, ou  por não estarem em um relacionamento. Também pode ser por ‘simplesmente’ não ter uma família carinhosa ou confortadora.

Pensamentos de  comparação, muitas vezes,  trazem sofrimento mental, fazendo emergir  sentimentos auto depreciativos, para quem tem pouca autoestima. E, por vezes, de culpa, quando percebem algum traço de inveja. Assim, muitas pessoas se esquivam destes encontros para não terem de entrar em contato com estes sentimentos.  

Há também pessoas que provêm de  famílias com segredos,  abandonos, abusos e maus-tratos. Reunir todas as pessoas envolvidas pode causar bastante mal estar às ‘vítimas’, que não compartilham suas dores com os demais parentes e se veem obrigadas a conviver com  quem as magoou. 

Ritos de passagem 

Tirando estes casos, por que se dá tanta atenção ao Natal e ao ano novo? Esta época, especialmente o réveillon, permite  analisar o final de um  ciclo, e melhor planejar o/s próximo/s ano/s. Projetos abandonados  podem ser retomados ou repensados. Também os que estão em andamento podem passar por uma avaliação: devem ser mantidos? Ao reconhecer o que não se conseguiu realizar – e porquê – pode-se viver melhor, comprometendo-se com o que realmente é valioso. Fica mais difícil quando a pessoa não vê nenhuma possibilidade de mudar a situação na direção do que quer. E é super recomendado que, neste caso, se procure ajuda psicoterapêutica para que se consiga analisar a situação de forma mais ampla – e talvez flexível. 

Comprometa-se com seus valores em 2019 

Pode parecer difícil fazer algum planejamento se as mudanças não param, a nível global. A cada dia, o mundo parece mais imprevisível e acelerado. O grande aprendizado é saber planejar,  desenvolvendo flexibilidade para adaptar, caso haja algum acidente de percurso. É preciso aceitação de que há coisas que não dependem diretamente de nossa vontade ou não estão sob nosso controle.

No que depender de você, empenhe-se e tenha foco. Estes dois componentes ajudam a superar coisas podem atravessar o seu caminho. Dependendo da circunstância, insistir não significa resiliência, nem persistência, e sim teimosia. Pode ser mera perda de tempo. Em alguns casos, podem haver questões mais profundas, necessitando não só de acompanhamento psicoterapêutico mas também de uma avaliação médica. É importante fazer esta distinção.

Apoio psicoterapêutico

Considerando que não haja questões médicas intervindo, tendo sido afastadas as suspeitas de depressão ou outros transtornos, ao fazer sua  retrospectiva do ano que acaba, avalie quais são os seus valores pessoais. E faça o balanço: você se comprometeu com eles em 2018? Ou suas ações não estavam alinhadas com eles e você  se afastou do que você realmente valoriza? A intenção não é procurar culpados e sim  observar e mudar o que pode ser mudado, na direção do que se quer. Compaixão e autocompaixão são importantes neste processo. Ao avaliar o que distraiu no caminho, você pode se comprometer com  as mudanças necessárias. Também é importante perceber que  alguns valores são (ao menos temporariamente) incompatíveis entre si. Você se aproxima de algum e se afasta de outro. Mas talvez o maior problema é quando se age de forma compromissada  com valores  de outras pessoas e não seus. 

Hora de procurar ajuda – saiba quando

Ter amigos pode não ser o suficiente para lidar com algumas travas pessoais – que muitas vezes são apenas mentais. Amizades importam muito para o bem estar psíquico, promovendo conexão, afeto e outros valores.  Mas, nem  o melhor dos  amigos tem disponibilidade total (inclusive de tempo), distanciamento ou mesmo experiência para realmente colaborar. Alguns ficam incomodados com questões que não encaram em suas próprias vidas pessoais. Às vezes tentam apenas consolar e  mostrar ‘o lado bom das coisas’, sem entender que está difícil para você ‘pensar positivo‘, o que aumenta o mal estar e a sensação de incompreensão. Assim, revelar a pessoas conhecidas suas experiências traumáticas, ou pensamentos e emoções negativas pode ser muito difícil.

Quem se cala – e se isola – pode estar realmente em uma situação mais grave do que você poderia supor. Se é você a pessoa que  fica ruminando pensamentos  autodepreciativos, que fazem você querer desistir de tudo, inclusive de viver, procure ajuda. Durante o período de festas, o CVV é uma excelente opção, para os momentos mais críticos. Mas encare o projeto de uma ajuda de médio e longo prazo: o quanto antes comece ou retome psicoterapia.  

A psicoterapia pode ajudar você a viver  sem talvez idealizar tanto,  colocando expectativas realistas e aproveitando o que se apresenta agora. O futuro – quando chegar e se tornar presente – depende das ações hoje. Não estar com os pés no tempo de agora, no momento presente, faz perder o foco. Muitas vezes contribui para alterar o  humor.  Ao ‘viver’ no passado, relembrando cenas ou situações – dolorosas ou felizes, não importa – não se percebe, muitas vezes, o que se tem hoje para desfrutar e o que se está perdendo.  Viver querendo antecipar, controlando por temer o futuro, ou ficar só sonhando, também impede de construir a vida que se quer, de se comprometer com os valores pessoais. 

Lidar com o possível

Considere, pois, em 2019, a possibilidade de iniciar um processo de  psicoterapia.  “Ser feliz dá trabalho” (e é impermanente, sempre é bom lembrar). Autoconhecer-se e trazer à tona  pensamentos e emoções que paralisam pode ser o necessário para que eles mudem ou percam sua intensidade. Ou fiquem ali, reconhecidos, mas já sem causar prejuízo e insatisfação com sua própria vida e suas escolhas. 

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Thays Babo é  Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio, com formação em TCC pelo CPAF-RIO e extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP). Atende a jovens e adultos em terapia individual ou de casal,  em Copacabana.

 

Tic-Tac: 2018 chega ao fim. E daqui para frente?
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