Há algum tempo,  um blog fez uma lista de filmes que exemplificavam o ‘amor maduro’. A maioria, no entanto, exemplificava o amor romântico.

Ao contrário do que se pode pensar, este tipo de amor pode ser muito imaturo: estabelece ideais inatingíveis, elevando expectativas e gerando frustração amorosa. 

História do amor romântico

O movimento Romântico surgiu no século XVII, mas foi no século XX que a indústria do cinema, através dos  filmes de Hollywood,  massificou os mitos do amor romântico. Ainda hoje, a produção cultural, incluindo músicas, novelas e livros, ainda insiste neste modelo.

Gestos grandiosos (e às vezes presentes caros) fazem parte dos ‘sinais’ românticos e podem ser confundidos com provas de amor, mais do que a gentileza e cuidado. 

Nem tudo o que parece romântico é amor de verdade

A  foto abaixo é um belo exemplo de como as conclusões podem ser precipitadas (e isto se aplica em especial aos posts das redes sociais)

Beijo

Aparentemente, a foto, tirada ao final da II Guerra Mundial, na Times Square, registra um momento  romântico. Muito depois, soube-se que,  na verdade, o marinheiro agarrou e beijou a enfermeira que passava, porque ele queria comemorar. (Muito parecido com o que hoje em dia os rapazes fazem nas baladas ou nos blocos de Carnaval).

Décadas depois,  a enfermeira foi reconhecida e entrevistada. Esclareceu que não foi um trauma grande, em função do contexto.  O exemplo serve para lembrar que  nem tudo o que parece romântico  é amor. Isto vale principalmente para tempos de redes sociais. 

Produção cultural e o amor romântico

Como dito anteriormente, boa parte da produção cultural estimula a idealização do amor. A peça Romeu e Julieta, de Shakespeare, ao contrário do que se pensa, pode não ser um bom  exemplo de amor. O drama do jovem casal representa o arrebatamento da paixão juvenil que, na maioria das vezes, não dura. Já não durava no tempo de Shakespeare: Romeu tinha recém saído de uma paixão. Alguns   textos críticos recentes propõem finais que poderiam ter acontecido, caso as personagens não tivessem morrido. 

A música que diz que “é impossível ser feliz sozinho” não é, pois, necessariamente verdade, em se tratando de amor romântico. Temos, sim, necessidade de conexão e pertencimento, mas isto pode vir de outras formas. Algumas vezes, estar em uma relação amorosa pode ser justamente o motivo da infelicidade, em especial em um relacionamento abusivo!

Assim, acreditar na impossibilidade da felicidade pode dificultar romper o relacionamento amoroso.

O problema do amor romântico  

Ao criar expectativas altíssimas e dificilmente alcançáveis, o limite de tolerância diminui diante das diferenças. Os relacionamentos são rompidos muito facilmente e isto gera mais insegurança. 

E, por outro lado, quem está só, muitas vezes, se deprime. É como se apresentasse, para si mesmo(a), um atestado de  ‘incompetência emocional’.  Quem não está em um relacionamento amoroso teria alguma razão mesmo para se deprimir?  Lidar com a própria solidão e gostar de si é importante para saber escolher bem e não se jogar em um relacionamento apenas por medo de sentir incompletude.

O status social muitas vezes “valida” a pessoa no seu grupo. Quem está só muitas vezes acredita que não tem valor, que é um fracasso. Ou que está incompleto. Algumas famílias reforçam esta ideia, cobrando um compromisso. É preciso se cuidar para não acreditar nisto e não cair em  uma depressão, tentando escapar dos próprios sentimentos de menos-valia e de pensamentos depreciativos.

Era digital

As imagens postadas nas redes sociais não necessariamente refletem  a verdadeira felicidade. O amor sorridente das fotos não é a prova de felicidade. Lembre-se da foto da Times Square.

Em outro post falaremos das novas tecnologias e de como aplicativos como  Tinder e Happ´n  bem como redes sociais (em especial Instagram e Facebook) podem minar a estabilidade das relações, até por aumentarem as expectativas.

Zygmunt Bauman foi visionário ao conceituar o amor líquido, característico da pós-modernidade, quando ainda não existiam estes apps.  A era digital decididamente mudou os relacionamentos amorosos. 

Solidão ou solitude?

Temos necessidade real de conexão e pertencimento, de receber e dar amor e carinho – isto é fato.  Mas muitas pessoas comprometidas se frustram ao perceberem que tudo o que sonhavam antes do relacionamento não se realizou.

Talvez porque seja humanamente impossível atender a  expectativas tão altas. Imaginam que o par irá mudar, para agradar, pode decepcionar.

E, ao contrário, muitas vezes a pessoa se transforma, sim, indo em uma direção diferente do que se queria a princípio. 

Relacionar-se com o outro

E a flexibilidade e aceitação do outro tal como ele é, onde fica? Por que é tão difícil? Esperar que seu par supra todas as suas necessidades e carências pode ser injusto – e por que você não precisa aprender a se ver com os olhos dela? Ou ver o mundo com os olhos dela?

Quando nos relacionamos, no fundo, queremos o tipo de atenção que recebíamos quando éramos bebês, mas nem sempre isto será possível. Mesmo assim, a relação pode ser ótima, se você puder tolerar um certo grau de incerteza e distância. 

Terapia – quando buscar?

Quando seu humor e bem estar dependem de estar com alguém, está na hora de se conhecer melhor,  descobrir quem você e aprender como sobreviver (e bem) sem alguém do seu lado. E também não aceitar qualquer pessoa,  com valores totalmente diferentes dos seus, só para combater a solidão. 

Em terapia individual, podem-se trabalhar os valores pessoais e crenças sobre relacionamentos. Muito do que se acredita sobre namoros e casamentos são ideias que trazemos da infância. Pode ser dos filmes infantis, ou  da observação do relacionamento das figuras parentais ou do grupo social.

Aprender a se valorizar, a ter auto respeito e autocompaixão, permite que suas relações com os demais mude. Você vai da  dependência e desespero para a abertura para  oportunidades que lhe aproximam do  que traz realização e preenchimento.

Relacionar-se deve ser uma escolha, combinando razão e emoção.  

Saúde mental e emocional

Tanto a ansiedade excessiva quanto a  depressão podem impedir de estabelecer  relações saudáveis. É importante reconhecer quando se precisa de ajuda profissional.

Dificilmente  alguém equilibrado poderá suportar, por muito tempo, alguém que não quer cuidar de si. Pare de  projetar  suas necessidades e busque em si como pode resolvê-las. Prepare-se e abra-se para construir uma parceria de alegria e crescimento.

Com o tempo, com uma aliança forte,   desafios e  crises eventualmente surgirão e poderão ser enfrentados. Faz parte da vida ter uma cota de sofrimento, mas as soluções podem ser encontradas sem o desespero. 

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Gostar  de si torna você uma pessoa atraente.  O que você tiver de  pior deve ser encarado – aceito – e, se você puder e quiser, mudado. Seja a pessoa que você gostaria de conhecer e encontrar. Faça psicoterapia.

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Thays Babo é  Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio, com formação em terapia cognitivo-comportamental (TCC),  pelo CPAF-RIO e extensão em ACT (Terapia de Aceitação e Compromisso),  pelo IPq (USP).

Durante a pandemia de coronavírus, apenas atendimento on-line – a a jovens e adultos em terapia individual, terapia de casal e terapia pré-matrimonial.

Amor romântico: nem sempre é amor de verdade
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