Queixas sobre falta de tempo são frequentes e não param de crescer. Durante a pandemia, muitas pessoas trabalham em home office, sem terem de se deslocar para o trabalho. O tempo deveria sobrar, né? Mas, não é o que acontece. Afinal, quem são os ladrões do seu tempo?
Se o dia continua tendo 24 horas e cada uma com os mesmos 60 minutos, o que acontece com o seu tempo, que parece diminuir a cada dia um pouco mais?
O uso excessivo de tecnologia tem sido apontado como um dos possíveis ladrões de tempo. Ao contrário do que se imaginava nos filmes de ficção científica, não ficamos mais disponíveis para atividades prazerosas ou autorrealizadoras com a tecnologia.
Pior: pesquisadores da área da saúde física e mental alertam que o uso excessivo da tecnologia digital afeta o nosso bem estar.
Dentre os impactos na saúde mental, destacam-se os prejuízos da memória e concentração. O aprendizado fica comprometido, afetando a atenção plena.
Além disto a interação física diminui, o que também contribui para aumento de depressão e ansiedade.
Smartphones e as mudanças na vida cotidiana
No âmbito profissional, muitas empresas bloqueavam o acesso dos seus empregados à internet, quando ela surgiu. O monitoramento das redes internas visava impedir a queda na produtividade.
Porém, o surgimento do smartphone sabotou este controle das organizações: com o seu aparelho de celular e usando seu próprio pacote de dados, cada funcionário(a) tem acesso ao mundo.
A criação dos smartphones revolucionou também os relacionamentos amorosos em todas as esferas. Aplicativos e redes sociais aproxima(ra)m e afasta(ra)m antigo(a)s parceiro(a)s, trazendo insegurança mesmo para casais que eram estáveis.
Esta insegurança pode prejudicar no nível profissional. Parentes, namorado(a)s ou cônjuges inseguro(a)s, podem não respeitar o horário de trabalho do(a) parceiro(a) e exigirem mais atenção. Cabe a cada um dar o limite para não correr o risco de perder o emprego ou ter o desempenho prejudicado.
É importante perceber que o prejuízo não é só corporativo: a médio e longo prazo, o prejuízo é pessoal. Quando você não atinge suas metas pessoais e se dá conta da sua própria responsabilidade, a culpa e a frustração são intensas.
Monotarefa ou multitarefa?
Descobertas mais recentes da neurociência mostram que o ser humano deve ser monotarefa. O conceito de multitarefa é ótimo para as corporações, mas não para as pessoas.
Ser multitarefa pode inclusive, prejudicar a qualidade da execução da tarefa propriamente dita e colocar sua vida em risco. Um exemplo comum é dirigir e usar o celular.
Smartphones e os relacionamentos afetivos
O uso excessivo do celular impacta na vida profissional e também nos relacionamentos amorosos e familiares, que podem ser prejudicados, se não houver autocontrole e gestão do tempo. É preciso saber desconectar e criar momentos de interação e intimidade. Também se faz necessário estabelecer limites mesmo para as pessoas amadas.
Já foi comprovado que a mera presença do smartphone no ambiente atrapalha a concentração e distrai. Especialistas dizem que só a vibração já perturba e que sons de alerta para notificações tornam a pessoa ainda mais distraída. E, muitas vezes, desperdiça-se este tempo tão precioso em interações superficiais ou com informações desnecessárias.
Quem usa o celular em excesso acaba deixando seu par de lado. Portanto, esta é uma queixa comum tanto na terapia de casal como na terapia pré-matrimonial. Em terapia são feitos acordos sobre a utilização do celular – que pode ser em função do horário, variando de casal pra casal .
Assim, fique consciente: o tempo que poderia ser investido, compartilhando experiências pessoais ou mesmo ser dedicado à maior interação física, ao toque e a sexualidade (ingredientes importantes para uma relação amorosa), é desperdiçado.
Como gerir o seu tempo no celular
Durante a pandemia, o tempo de celular aumentou em até 50 porcento, muitas vezes por causa da busca por informações sobre o coronavírus.
Mas, em tempos pré-pandemia, mesmo nos encontros românticos ou com a família, as interações olho no olho diminuem quando os celulares não são guardados.
Além da diminuição da interação, a própria percepção sobre o sabor da comida éalterada. Inclusive, pode-se comer mais por isto – impactando também no ganho de peso.
Uso da tecnologia digital durante a pandemia
A suspensão das aulas presenciais, durante a pandemia, faz com que crianças e adolescentes estejam perdendo algumas experiências importantes, de relacionamento interpessoal. Alguns consultores de tecnologia já têm apontado dicas para minimizar os problemas advindos daí – um deles é a depressão, que aumenta entre os jovens.
Pediatras já apontam que crianças muito pequenas são prejudicadas, mais do que beneficiadas, com o uso excessivo da tecnologia. Cabe a pais e maes cuidarem de equilibrar este tempo – o que tem sido particularmente difícil pois muitos estão em homeoffice e não têm dado conta de conciliar tarefas domésticas, profissionais e os cuidados com as crianças.

Existem dicas práticas sobre como minimizar o seu tempo de tela. Mas a autogestão, saber dizer ‘não’ e filtrar tarefas, que não é fácil para a maioria das pessoas, são fundamentais. Dependem menos de argumentos racionais e lógicos e mais das suas emoções.
E, para isto, você precisa aprender a regulá-las para reduzir o tempo que passa online. Procure ajuda especializada. Faça psicoterapia.
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Thays Babo é Psicóloga Clínica, Mestre pela Puc-Rio, com formação em TCC e extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP). Atende a jovens e adultos em terapia individual, de casal e pré-matrimonial, em Copacabana. Atualmente, cursa a formação em Terapia do Esquema pela Wainer Psicologia.
Durante a pandemia de coronavírus, os atendimentos são prioritariamente online.