Em minha primeira carteira de trabalho havia um texto, logo nas primeiras folhas, que dizia que registros profissionais falam muito de quem a portava. Nele era apontada a relação entre o tempo de emprego e personalidade. Assim, segundo podia-se interpretar, quem permanecesse no mesmo emprego longos anos  seria analisado  como alguém confiável, com estabilidade. Seria o que se dizia:  alguém que ‘vestia a camisa da empresa’. Lembro do meu pai ter me falado o mesmo, fazendo recomendações quando fui pro primeiro estágio.

Como profissional liberal, não sei dizer se o texto permanece na CTPS. Se mantido, está anacrônico. Lembrei dele hoje ao ler o artigo de Tom Coelho que, ao descrever o mercado de trabalho hoje, propõe reflexões interessantes, como quando fala em “promiscuidade corporativa” (no texto disponível em   http://www.tomcoelho.com.br/artigos/artigos.asp?r=141&busca=amante+argentina ) . Chamaram  minha atenção as ponderações do autor sobre o que estamos ensinando aos jovens. Vale ler!

Tenho a impressão que a alta rotatividade aqui no Brasil começou com os publicitários. A saída de Washington Olivetto da DPZ e, alguns anos depois, o vôo solo de Nizan Guanaes, talvez tenham influenciado um pouco o panorama geral – estava nos jornais. Com certeza, influenciou o mercado publicitário. Atualmente, há profissionais de RH que  aconselham ao profissional que mudem, que fiquem no máximo 5 anos em uma empresa. Rodando de uma para outra, ‘somam-se competências’, ‘obtém-se uma visão globalizada’ etc etc. E outros consultores tentam vender estratégias para que as empresas retenham seus talentos. Enfim, há mercado para todos.

Como consequência da instabilidade do mercado profissional, vemos crescer o número de consultores. Alguns se lançam em busca mesmo de melhores salários e benefícios pois não contam com a ‘fidelidade’ da empresa, a ‘consideração’ que antigamente se tinha, o prestígio que se tinha no emprego quanto mais tempo de casa se acumulava. Em nome da lucratividade, a maioria das empresas se desumanizou, adotando uma política agressiva, embasada na lucratividade apenas. Aos funcionários, resta mesmo ir atrás das melhores ofertas e oportunidades. “Cada um por si”.

Não por acaso, aumenta a procura por concursos públicos – e é muito raro saber de alguém que, tendo se tornado funcionário, abra mão das “garantias”. Mas também há uma relação esquisita: conquistada a estabilidade, muita gente se acomoda. Tal qual em casamentos. Não dá para não perceber a  semelhança entre relações trabalhistas e relacionamentos amorosos contemporâneos. Talvez a motivação das crises, em ambas as áreas, seja a mesma.

Pensando a nível macro, o que mudou, depois dos conselhos de meu pai, há mais de 20 anos, e hoje?

O mundo. Seus valores. O mercado profissional. O indivíduo.

Ampliando ainda mais, vemos que a mesma ‘rotatividade’ dos empregos e talentos está presente nas diversas relações. Os laços afetivos, cada vez mais frouxos, facilitam o rompimento dos relacionamentos , tão logo nada mais acrescente. Não só com a empresa, mas com a família, nos namoros, nos casamentos.

Atualmente, há estudiosos  sobre a contemporaneidade que descrevem a sociedade “líquida”.

Alguma alternativa à vista? como cada um de nós pode ir contra a maré?

Está aberto o debate…

Alta rotatividade

Uma ideia sobre “Alta rotatividade

  • 20/01/2009 em 16:24
    Permalink

    Em tempos de melhor aprendiz, melhor modelo, melhor isso, melhor aquilo na tv é lamentável chegarmos a esse o ponto.
    Eu diria que antigamente, tinhamos uma sociedade “neurotica”, cheia de repressão. Agora, com a baixa do superego, estamos em um momento limitrofe…..minha preocupação e que caminhemos para um modelo social psicótico……rs

    abs

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