Classificado como ‘comédia dramática’, Bling Ring – a gang de Hollywood é baseado em fatos reais recentes. Na verdade, traz muito pouco para se divertir e incomoda bastante a pais e mães críticos : é um bom retrato de um segmento da geração millenial. Antes de prosseguir, assista ao vídeo abaixo, que explica como são estes jovens, nascidos a partir dos anos 90, sua forma de pensar (não linear), suas regras e filtros que se fazem necessários.



O vídeo, feito por pesquisadores especializados em tendências de comportamento e consumo, resume bastante e de forma ‘otimista’, para vender o conceito, sem dar margem a aprofundamentos sócio-psicológicos. E, por isto mesmo, não podemos fechar um ‘diagnóstico’ da geração… Mas, a partir desta breve introdução ao retrato de uma geração, fica mais fácil discutir Bling Ring.

Dirigido e roteirizado por Sofia Coppola, a partir de livro homônimo, o filme acompanha o grupo, que agiu de 2008 a 2009, invadindo casas de pessoas famosas, nos Estados Unidos. Estes jovens, fascinados pelo estilo de vida das celebridades, furtavam basicamente seus objetos pessoais. As vítimas eram ícones fashion, basicamente socialites , atores ou atrizes. Algumas delas foram Paris Hilton e Lindsay Lohan. O que buscavam nas invasões? Objetos como roupas, bolsas, relógios, possuir o que passasse ‘estilo’. Eventualmente dinheiro também (totalizando 3 milhões de dólares, no final do período). Os furtos eram divertidos para eles, como ‘ir ao shopping‘. Não tendo sido pegos no ato, se tornaram constantes. E, por serem jovens e imaturos, começaram a se vangloriar, contando aos quatro ventos dos ‘ganhos’ feitos.





Eles não eram Robyn Hood modernos, roubando de quem tinha muito (e nem notava o sumiço dos objetos) para dar aos que têm pouco. Tampouco podem se equiparar a Bonnie & Clyde, mencionados no filme, que tiveram início de vida difícil. Na verdade, o grupo vinha de famílias de bom poder aquisitivo. O filme não entra em considerações psicológicas mas a sensação é que o grupo tem um enorme vazio emocional que nem percebem, tampouco verbalizam. Nada é suficiente para satisfazer o que o consumismo impõe como necessário. É como se o valor pessoal dependesse da posse de objetos -e não param para questionar, nem um minuto, como fazem para obtê-los. Tudo é ‘must have‘: os sapatos, os óculos, os relógios. São imediatistas, julgam-se onipotentes, furtam sem sentir culpa e custam a se dar conta de que serão pegos. A falta de culpa talvez advenha de saber que os lesados nem percebem que foram assaltados. Não lhes faz falta mesmo. Explica, mas não justifica, claro. Aliás, as justificativas que apresentam ao serem pegos são cínicas e, apenas, para tentar escapar da justiça. Culpa passa longe. Suas consciências foram bastante anestesiadas, nas comemorações, embaladas com drogas.

Várias coisas, portanto, incomodam no filme. Além do consumismo, a falta de privacidade , o excesso de exposição e da vigilância que se tem sobre a vida alheia. Ok, as vítimas são pessoas que precisam desta exposição para se manterem na mídia e requisitadas. Mas, por que fascinam tanto o público? E o quanto este excesso de exposição e consumo midiático é prejudicial também? Uma das figuras – da vida real – que o grupo mais adora é Lindsay Lohan, jovem atriz que, ao longo dos últimos anos esteve à volta com muitos delitos, inclusive uso de drogas.

A impressão que Bling Ring deixa sobre os millenials , que já nasceram com o mundo digital revolucionando a comunicação e as relações interpessoais, é que eles têm uma relação distanciada com os pais, mesmo quando moram sob o mesmo teto. As redes sociais trazem pra dentro de casa pessoas totalmente distantes e inacessíveis. Na virtualidade, pode-se exibir a privacidade em tempo real para milhões ao mesmo tempo. Tendo um universo à parte, desconhecido, surpreendem seus pais quando são descobertos. Pais tão alienados quanto os filhos, alguns também desejosos de fama.

E você ? viu o filme? Como se sentiu? Aguardo sua opinião!

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Thays Babo é psicóloga, Mestre em Psicologia Clínica e associada à ATC-Rio. Atende no Centro.

Bling Ring e os millenials – você conhece esta geração?
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