Se nossos bisavós reaparecessem nos dias atuais, ficariam assustados com os novos relacionamentos amorosos. Muito do que namorados fazem hoje só era ‘permitido’ a partir da lua de mel. Aliás, os bisavós nem conheciam a Terapia de Casal e se surpreenderiam com o surgimento da Terapia Pré-Matrimonial.
O que mudou tanto
Hoje namorados passam dias inteiros juntos, viajam. Esta proximidade pressupõe, na maioria das vezes, ter intimidade sexual. Isto era impensável na época dos bisavós… Sexo só era permitido na lua de mel. A maioria das famílias exercia controle para que a mulher chegasse virgem ao casamento.
Felizmente, este controle já não é mais assim tão exagerado.
Assim, ainda na fase do namoro, já conseguem perceber as dificuldades e diferenças no convívio a dois, diário. Em dúvida se devem ou não formalizar a relação, cada vez mais, casais jovens recorrem à Terapia Pré-Matrimonial.
Por que tanto medo de não dar certo?
O número de divórcios cresce a cada ano no mundo todo. No Brasil, dados do IBGE mostram que 1 em cada 3 casamentos termina em divórcio. O medo de fracassar ou de não conseguirem ser “felizes para sempre” pesa.
Muitas vezes, tais medos se relacionam com o que cada um vivenciou na relação de seus pais. Se pai e mãe viviam (ou ainda vivem) infelizes, uma das duas pessoas (ou ambas) pode temer repetir a infelicidade parental.
Por outro lado, pais muito harmonizados, que passaram a imagem de casal ‘perfeito’, também podem causar a insegurança.
Às vésperas de assumirem o compromisso, os jovens se perguntam: “será que eu também conseguirei ficar casado/a ‘para sempre‘?”.
Então, tanto pode ser o medo de ser abandonado/a ou traído/a como também o medo de não ser perfeito/a.
Cuida-se muito da cerimônia – mas nem tanto da relação
Milhares de reais são gastos com os preparativos da cerimônia de casamento. Mas muitos casais não têm a mesma boa vontade em investir e cuidar da saúde da relação.
Não são raros os casais que se separam antes mesmo de quitarem as despesas assumidas com festa.
E o que impede de procurar ajuda psicoterapêutica antes, para fazer ajustes antes do casamento? Apesar de algumas pessoas alegarem questões financeiras, o estigma parece ser o principal fator.
Este estigma contra a terapia também tem a ver com crenças do amor romântico.
“Amar pode não ser o suficiente“, como disse o criador da Terapia Cognitiva, Aaron Beck, para enfrentar os desafios que se apresentam na convivência diária, íntima.
Aliás, será que se é capaz de dar e receber amor? Esta capacidade está ligada fundamentalmente com o quanto se recebeu de amor. Quem tem as necessidades mais básicas supridas, na família de origem, terá mais facilidade de amar e dar amor.
Mas, romanticamente, se espera é que o/a parceiro ame incondicionalmente e suporte as adversidades. Que seja um par perfeito.
Comunicação – a chave para a qualidade da relação
A qualidade da comunicação conjugal pode sinalizar necessidade de ajuda psicoterapêutica,. Se predominantemente agressiva ou sarcástica, o sinal já está vermelho. Ou quando o casal cada dia se comunica menos.
A Terapia Pré-Matrimonial aumenta as chances de um relacionamento mais satisfatório. Nela, além de se trabalharem as habilidades de comunicação, o par amoroso entende e deixa claro para si
- – O que atraiu no/a parceiro/a;
- – O que esperam do casamento em si e da vida a dois;
- – As expectativas de cada um. Ter filhos ou não (se sim, como educar?), como lidar com as finanças? o que é considerado infidelidade? como serão divididas as tarefas domésticas? o quanto de proximidade/distância em relação à família de origem?
- – O que esperam da vida sexual. Por mais que haja maior liberdade, ainda é difícil, para muitos casais, deixar claras as expectativas de fidelidade ou não, de frequência de relações, fantasias etc. Também se pode falar de traumas passados.
- – Quais valores orientam cada um e quais são os do casal?
A Terapia Pré-Matrimonial em si
Atualmente, algumas abordagens são integradas, tanto na na Terapia de Casal como na Terapia Pré-Matrimonial: a Terapia Cognitivo-Comportamental, a Terapia do Esquema para Casais e a Terapia de Aceitação e Compromisso conversam bem entre si.
Eventualmente o/a psi solicita sessões individuais, programadas em comum acordo, logo no início do processo de terapia). Há tarefas entre consultas e é importante que ambas as pessoas se comprometam em fazê-las. Também são treinadas habilidades de comunicação (escutar atenta e compassivamente, e também a falar sobre o que incomoda, de forma objetiva, de forma não violenta).
Finalizando: é necessário que ambas as pessoas entendam a importância do tratamento e se comprometam a comparecer juntas nas sessões. E também a executarem as tarefas entre sessões. O grau de adesão ao processo mostra a possibilidade daquele casal conseguir se harmonizar.
Referências
Beck, A. T (1988). Love is never enough. New York: Harper & Row
Harris, R. (2009) ACT with Love: Stop Struggling, Reconcile Differences, and Strengthen Your Relationship with Acceptance and Commitment Therapy. Oakland: New Harbinger Publication.
Walser, R. D; Westrup, D (2009) – The mindful couple – how acceptance and mindfulness can lead you to the love you want. Oakland: New Harbinger Publications.
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Thays Babo é Mestre em Psicologia Clínica (Puc-Rio), na linha de Família e Casal. Tem formação em TCC pelo CPAF-RIO, em Terapia do Esquema (pela Wainer Psicologia) e extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP).
Atende a jovens e adultos em terapia individual, terapia pré-matrimonial e terapia de casal, em Copacabana. Durante a pandemia, a maioria dos atendimentos é online.