Terapia de Casal ou Terapia Pré-Matrimonial

Você sabia que o tempo médio para buscar terapia de casal é de 6 anos? Mas, por que será que é preciso tanto tempo de conflito antes de buscar ajuda psi?

Na verdade, não é preciso. E quanto mais tempo o casal em crise demora a procurar ajuda e a iniciar o tratamento, mais mágoas terão se acumulado. E isto certamente dificulta e prolonga o processo da terapia de casal.

Mas, talvez, as crenças do amor romântico atrapalhem bastante. Afinal, muitos casais acreditam que todo e qualquer problema na relação será resolvido, magicamente, por amor. Como se “amor de verdade” pudesse prescindir de ajuda especializada.

Como se amor resolvesse tudo. E, como disse Aaron Beck, o amor nunca é suficiente. Então, ao começarem as desavenças, muitas delas “normais”, os casais acreditam que aquele relacionamento, em si, é que não é o “certo”. Acreditam que se fosse, não brigariam. Iriam se entender só de olhar um pro outro…

Infelizmente, na vida real, com pessoas reais, o que aprendemos sobre amor nos filmes e novelas pode, assim, atrapalhar demais o relacionamento.

Cultura do amor romântico

O relacionamento amoroso “perfeito”, onde não há problemas sem solução, em que as pessoas se entendem telepaticamente, não existe.

Só existe nos filmes, do tipo comédias românticas, principalmente as americanas (romcom, como são conhecidas). Este tipo de cinema criou altas expectativas, muito difíceis de serem atendidas. Assim, há muita frustração nos relacionamentos que se estreitam.

Casais precisam saber que alguns problemas são insolúveis – e tudo bem. Segundo o casal John e Julie Gottman, aproximadamente 2/3 deles nunca serão resolvidos. Qual a saída, então?

Desenvolver as habilidades de comunicação e a flexibilidade. Só assim, o casal irá aprender a negociar e fazer as concessões necessárias.

O que é preciso saber sobre relacionamentos amorosos?

  • Para começar, relacionamentos amorosos demandam trabalho. Atenção. Consideração. Flexibilidade. Paciência. Sem isto, difícil que um relacionamento se estenda com satisfação para ambas as pessoas.
  • Não existem relacionamentos perfeitos. Se as pessoas não são perfeitas – como um relacionamento humano poderia ser?!?
  • A comunicação amorosa não violenta, com uma escbusuta empática, é pré-requisito para um bom convívio. Aproxima o casal e tranquiliza.
  • O par deve buscar entender as necessidades emocionais um do outro. Ambos os indivíduos devem se empenhar em desenvolver inteligência emocional.

Problemas no relacionamento

É só questão de tempo para que o casal descubra divergências. Se elas não aparecerem no namoro, com certeza surgirão no momento em que passam a morar juntos. Seja por divisão de tarefas, de espaço, dentre outras

E isto é natural: o relacionamento amoroso é o encontro de duas pessoas com históricos diferentes. Elas vêm de famílias que podem ser de origens bem diferentes. A cultura familiar implica em hábitos e valores diversos.

Além disto, cada pessoa traz sua experiência amorosa. Se existirem traumas – vindos da infância, da adolescência ou até do último relacionamento – a pessoa pode ter esquemas de desconfiança e abuso. Assim, vai usar estratégias de defesa, mesmo quando o par não apresenta nenhum risco. Pode atacar em situações que deixam a outra pessoa surpresa.

Não ter nenhum histórico amoroso também pode causar insegurança no próprio valor.

Alguns dos nossos esquemas são complementares ao da pessoa que nos atrai. É o que chamamos de “química esquemática”. Sem nos darmos conta, somos atraídas por pessoas que vão ativar nossos esquemas iniciais desadaptativos.

Assim, o convívio íntimo traz à tona muitas das nossas dores emocionais do início da nossa vida. Ao mesmo tempo em que precisamos desenvolver compaixão com nosso par, também precisamos de autocompaixão.

Ciúme em relacionamentos na era digital

Muitas vezes, na terapia de casal (e também na pré-matrimonial), o ciúme do passado amoroso surge como ponto de conflito. Este tipo de ciúme também é conhecido como ciúme retrospectivo ou retroativo.

Recentemente tem sido muito estudado, com o surgimento das redes sociais. Afinal, elas possibilitam acesso a informações sobre o passado amoroso do seu par. E, fora de contexto, com interpretações erradas, contribui para conflitos – muitos desnecessários.

Assim, se faz necessário negociar o tempo e a forma de uso de internet e das redes sociais. Aliás, as redes costumam ser motivo de ciúme e rompimentos. O(a) parceiro(a) pode se sentir desconsiderado(a), não prestigiado(a) e até mesmo traído(a), de acordo com o comportamento online do outro.

Certamente, “amar dá trabalho“. O amor é uma habilidade a ser desenvolvida, como afirma o filósofo Allain de Botton.

Cabe a você fazer a sua parte para que dê certo. E isto demanda flexibilidade psicológica e cognitiva, bem como aceitação da pessoa que você escolheu.

Ela não é perfeita. E você também não.

Terapia de casal ou pré-matrimonial: para quê?

Em terapia de casal ou pré-matrimonial, cada pessoa precisa assumir sua responsabilidade e o compromisso com o processo e com seu par. A clareza sobre o que esperam da terapia também é importante. A intenção é ficar juntos ou separar, de forma amigável?

O compromisso mútuo e com o processo terapêutico determina o sucesso da terapia.

Em muitos casos, apenas uma pessoa do casal sabe o que quer da relação. O espaço e tempo aberto para a terapia ajudam a clarificar o objetivo do casal.

Não é raro que quem queira manter a relação recorra à terapia como tentativa de convencer a outra pessoa a continuar. Mas o(a) psicólogo(a) estabelece – com ambas – o objetivo daquele processo terapêutico.

Importante: se uma das pessoas já faz terapia, a Terapia de Casal (ou Terapia Pré-Matrimonial) deve ser feita com outro(a) psi, para que não haja problemas no vínculo, para que não haja desconfiança. Nenhuma das pessoas atendidas deve sentir que o(a) psi está privilegiando a pessoa que atendia antes. Ou que ele/ela tem informações privilegiadas.

Treinando as habilidades de comunicação na terapia de casal ou pré-matrimonial

A comunicação do casal deve ser empática, compassiva, com foco nas emoções. Deve-se evitar a crítica – quem não se fecha ou se defende diante dos ataques críticos?

Porém, aprendemos o estilo de comunicação com nossos cuidadores iniciais. Assim, faz parte do processo terapêutico identificar os padrões aprendidos na infância. A partir há o “treino” da comunicação.

Em suma: é preciso aprender e adotar como padrão para o casal a comunicação mais empática e compassiva, não violenta.

Os pesquisadores do The Gottman Institute desenvolveram uma metodologia que permite afirmar com precisão se um casal vai ou não se separar, observando a forma com que o par amoroso se comunica.

Assim, uma das primeiras coisas que terapeutas de casal devem fazer é observar a comunicação do casal e ensinar como melhorá-la.

O tempo faz diferença na possibilidade de melhoria do relacionamento

Como mencionado anteriormente, o tempo é fundamental para que as divergências não se aprofundem. Alguns limites não devem ser ultrapassados para não inviabiizar o tratamento. Casais que fazem terapia pré-matrimonial agem de forma preventiva. Já estabelecem acordos que facilitarão bastante o convívio.

Durante a terapia, cada pessoa do casal tem um espaço seguro, mediado, para mostrar suas vulnerabilidades para sua parceria.

Se você acha que o seu relacionamento está em crise, e quer investir nele, converse com o seu par amoroso. Busque a terapia adequada pra vocês o quanto antes.

Referências

Beck, A. T (1988). Love is never enough. New York: Harper & Row

Harris, R. (2009) ACT with Love: Stop Struggling, Reconcile Differences, and Strengthen Your Relationship with Acceptance and Commitment Therapy. Oakland: New Harbinger Publication.

Walser, R. D; Westrup, D (2009) – The mindful couple – how acceptance and mindfulness can lead you to the love you want. Oakland: New Harbinger Publications

Thays Babo é psicóloga (CRP 05/23827), Mestre em Psicologia Clínica (Puc-Rio), possui Formação em Terapia Cognitivo-Comportamental e em Terapia do Esquema, bem como extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso.

Atende a jovens e adultos, em terapia individual, de casal ou pré-matrimonial, em Copacabana e online.

Terapia de Casal ou Terapia Pré-Matrimonial

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.