Existem mitos sobre o amor que não ajudam o seu relacionamento amoroso. Pelo contrário, alguns impedem que você busque ajuda psicoterapêutica a tempo de salvá-lo.

Um deles é que “casais felizes não discutem“, nunca. Esta ideia é totalmente errada e foi desmentida por inúmeros estudos.

Pelo contrário, o segredo é saber como discutir e como reparar o estrago eventualmente feito.

Outro mito sobre relacionamentos amorosos

Estudos do The Gottman Institute desmentem outro mito: não é preciso esgotar uma discussão na hora. Esperar para resolver quando os ânimos se acalmarem pode ser a melhor opção.

A conexão de um casal deve ir além da cama – o dia a dia pode contribuir para um relacionamento mais caloroso, inclusive sexualmente.

No entanto, deve-se sinalizar para o seu par que é apenas uma pausa para se recompor e não uma desistência ou desconsideração com sua queixa, nem desmerecimento da importância do que se discute.

Aprender a se comunicar de forma compassiva e assertiva melhora o relacionamento, mas em geral não somos educados assim nas nossas famílias de origem. Por isto a terapia de casal ou terapia pré-matrimonial podem ser um recurso valioso.

Terapia de Casal – para quê?

Por causa destes mitos, muitos casais encaram a Terapia de Casal (TC) como ‘último recurso’ ou como um passo antes de se separar. Casais que buscam ajuda psicoterapêutica precisam ao menos reconhecer que não estão conseguindo lidar com algumas questões.

Não se engane: casais que não procuram terapia não são, por si só, mais felizes.  Buscar ajuda profissional para superar uma crise no relacionamento amoroso não é um fracasso. Pelo contrário, mostra o quanto se valoriza a relação e o quanto se quer superar as dificuldades e (re)construir. É um compromisso mútuo de cuidar da relação. Ao invés de ser um fracasso, é a tentativa de superação, possibilitando (re)construir o vínculo amoroso.  

Porém, ao esperarem tempo demais para buscarem ajuda, os casais passam por muito estresse e sofrimento desnecessários. As mágoas já podem estar em um nível tão alto que este “último recurso” não consiga atender às altas expectativas.

Há quem ache que a Terapia de Casal (TC) é só para ‘ ajudar a separar’.  Fato é que o casal que busca ajuda psicoterapêutica reconhece que não está conseguindo lidar com aspectos importantes no seu dia-a-dia mas deseja superar a crise conjugal.

Terapia de Casal e Terapia Pré-Matrimonial

Jovens casais parecem estar mais conscientes da importância da ajuda psicoterápica e têm procurado Terapia Pré-Matrimonial. Com mais informação e menos preconceito, já sabem que, para que um relacionamento dê certo, as arestas que surgirão, naturalmente, com a maior intimidade – deverão ser aparadas,

Neste tipo de terapia, promove-se uma abertura para falar sobre o que é importante para si: Valores, projetos de vida, vontade de ter ou não filhos, divisão de tarefas, como lidar com dinheiro. Muitos destes assuntos devem ser abordados antes mesmo da união – e não evitados. As chances do relacionamento ser bem sucedido aumentam se os casais, ao invés de passarem um tempo precioso decidindo detalhes sobre a cerimônia de casamento, puder falar sobre o que é inaceitável – ou esperado – na relação, o que não se negocia.

Foto de Toa Heftiba – Unsplash
Terapia – não é um papo qualquer

No setting terapêutico surgirão, naturalmente, assuntos espinhosos, muitos não falados na época do namoro. Afinal, a crença romântica de que a pessoa amada adivinhará, ‘telepaticamente’, desejos e sonhos faz com que o casamento aconteça sem haver uma intimidade profunda. A forma com que o casal se comunica é um indicativo importante da qualidade do relacionamento.

A sessão terapêutica é muito diferente de uma conversa com parentes ou com amigxs ou até sacerdotes. Todos estes opinam, dão conselhos e opiniões  mas também cobram atitudes. Se viver a dois já é difícil, incluir a opinião de toda a rede de amigos e parentes,  testemunhas das divergências, dificulta ainda mais.

Na terapia, buscam-se a compreensão e a aceitação das diferenças. Uma pessoa precisa aprender a se colocar no lugar da outra. Vulnerabilidades de cada um vêm à tona e é preciso haver compromisso, carinho e respeito com o que é compartilhado na sessão. Quando se pode falar sobre o que dói, apesar do medo de voltar a se ferir, paradoxalmente, o relacionamento se estreita e aprofunda.

O/a terapeuta de casal media e facilita a comunicação, muitas vezes prejudicada. Dependendo da abordagem clínica, ensinará técnicas de comunicação. O casal aprende a escutar de forma mais compassiva, sem acusações ou julgamentos, Será possível falar sobre valores que deveriam ter sido discutidos no início do relacionamento.

Quando se busca ajuda específica

Algumas das situações mais frequentes em Terapia de Casal ou Pré-Matrimonial são:

  • Sexualidade este é um aspecto muito importante do casamento, pois o distingue de uma relação de amizade, por exemplo. Mas, para muitos casais, ainda é difícil conversar sobre desejos, fantasias e medos. Expectativas frustradas podem atrapalhar o relacionamento conjugal e levar à situações de infidelidade. 
  • Gestão das finanças
  • Uso excessivo dos smartphones e aplicativos
  • Família de origem
Filmes sobre terapia de casal

Dois filmes americanos incluíram situações em que o casal busca ajuda terapêutica, mas de forma cômica. Apesar dos estereótipos, pelo menos nestes não se reforçou a crença de que Terapia de Casal destrói casamentos. Pelo contrário: ajuda a rever o compromisso assumido, treina habilidades de comunicação e pode restabelecê-la.

Quando apenas uma das pessoas quer começar o processo psicoterapêutico, a adesão pode ser difícil, como no filme  Um divã para dois,  centrado na dificuldade sexual de um casal de meia-idade. Precisa haver abertura para escutar um ao outro, bem como  perdoar, superar mágoas ou até dar um voto de confiança, em caso de traição. Quem entra em um casamento com crenças irrealistas de que será fácil, se decepciona e não conseguirá  vivenciá-lo de forma prazerosa e feliz. Vale ver o filme, apesar do final nada realista.

A Terapia de Casal pode então contribuir para muitos casamentos, possibilitando que voltem a ser prazerosos. E, caso a separação aconteça, aumentam as chances de que isto se dê em bases de respeito e consideração pelo outro, sem resvalar em litígio. Caso o  seu relacionamento não esteja como   você e seu/sua parceiro/a gostariam, deem-se nova chance. Procure ajuda psicoterápica e tente mudá-lo na direção do que ambos valorizam e querem.

Referências

Beck, A. T . Love is never enough. New York: Harper & Row. 1988.

Gottman, J. Casamentos: por que alguns dão certo e outros não. Rio de Janeiro. Editora Objetiva, 1988

Harris, R.  Act with love: stop struggling, reconcile differences and strenghten your relationship with acceptance and commitment therapy . Oakland: New Harbinger Publications, 2009.

Mc Kay, M, Fanning, P; Paleg, K. Couple skills: making your relationship works. Oakland: New Harbinger Publications, 2006.

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Thays Babo é Psicóloga Clínica, Mestre pela Puc-Rio, com formação em TCC pelo CPAF-RIO e extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP). Atende a jovens e adultos em terapia individual, terapia de casal ou pré-matrimonial em Copacabana.

Durante a pandemia de coronavírus o atendimento está sendo exclusivamente online.  

Relacionamento amoroso: como cuidar