Se uma pessoa próxima a nós sofre de transtorno de ansiedade, entender o que se passa para melhorar o relacionamento e saber como ajudar é fundamental. Entendendo o transtorno de ansiedade contribuimos para não agravar o quadro. E também nos protegemos, não adoecendo juntos!

Mas, afinal, como amar alguém ansioso sem surtar junto?

2020 – o ano que agravou a ansiedade

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que o Brasil é o país mais ansioso do mundo. Portanto, é bem provável que alguém próximo a você sofra de ansiedade – se não for você mesmo/a. Estes eram dados de antes da pandemia de coronavírus.

Com o surgimento da pandemia de coronavírus, quem permaneceu imune à ansiedade? Talvez só os monges budistas…

Mas é importante distinguir o que é sentir ansiedade, ser uma pessoa ansiosa, de ter transtorno de ansiedade.

Caso antes da pandemia você já estivesse com acompanhamento psiquiátrico antes da pandemia, não o abandone ‘do nada’ . Não suspenda medicação por conta própria.

Ansiedade e o medo de fazer terapia

O preconceito em relação aos transtornos mentais continua, apesar de ter diminuído graças à pandemia. O isolamento fez com que muita gente recorresse à terapia online.

Há vários medos envolvidos que fazem evitar buscar ajuda psi. Muitas pessoas temem, por exemplo, ouvir de um profissional que precisarão de medicação. Há o medo de ficar dependente de remédios, mesmo que por um tempo curto.

Outro medo bastante comum é devido ao estigma. Usar medicamento psiquiátrico significaria ser ‘louco/a’. Ou ‘fraco/a’. Por isto, os esclarecimentos são tão necessários. O mesmo tambem se aplica em buscar psicoterapia.

Entendendo a ansiedade

De forma bem resumida, a ansiedade é uma preocupação com algo que ainda não aconteceu, com o futuro. Porém, nem tudo o que se pensa, se realiza, felizmente. Mesmo que possa acontecer (ou que já tenha acontecido), a princípio é apenas uma ideia.

Graças à capacidade  humana de pensar,  de ir e vir no tempo, a ansiedade aparece. Pode ser simplesmente ao relembrarmos uma experiência traumática. Ou consumindo muitas informações – várias delas falsas.

A pessoa ansiosa tende a cometer alguns erros cognitivos. Alguns deles são:

  1. generaliza,
  2. catastrofização,
  3. maximização do positivo

Segundo as teorias evolucionistas, a ansiedade é antiquíssima:  nossos ancestrais viviam em um mundo perigoso, cheio de predadores. Aqueles  que se recolhiam mais cedo para suas cavernas, sobreviviam.

Somos, pois, descendentes dos sobreviventes e a ansiedade provavelmente consta na nossa história genética. 

A pessoa ansiosa sabe que a maioria de suas preocupações, felizmente, não se confirma. Mas, às vezes duvida, pensa “e se desta vez acontecer mesmo?”

De tanto acreditar no que pensa, a pessoa ansiosa começa a se comportar de forma evitativa diante de algumas situações. A sua vida pode ficar bem limitada. E os relacionamentos podem ser prejudicados. .

Causas e tipos

Mas por que alguém se torna ansioso?

Existem causas externas – uma catástrofe que aconteça gera ansiedade. Ou ter crescido em uma família muito instável.

Ou ter um pai e/ou mãe ansioso/a/s, que ensinam que o mundo é perigoso, que não se pode confiar nas pessoas. Muitos ensinam que é necessário controlar ao máximo para evitar sofrimento. Desenvolvem o esquema de padrões inflexíveis.

Mas não há um controle total. E, na tentativa de controlar tudo, mais se sofre.

Resumindo: a ansiedade é um sofrimento mental que pode ser aprendido,

  1. pela observação do comportamento de pessoas importantes na sua vida.
  2. pode estar atrelado ao contexto – espaço e tempo
  3. tem componente genético.
Não descuide da sua saúde mental – a ansiedade pode ser muito limitante. E estressante.

Na última versão do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais -, o DSM-V, os critérios diagnósticos foram revistos.

O DSM-V classificou assim as variadas formas de ansiedade:

  • Transtorno de Ansiedade de Separação,
  • Fobias,
  • Transtorno de Ansiedade Social (Fobia Social),
  • Ansiedade de desempenho, 
  • Transtorno de Pânico,
  • Transtorno de Ansiedade Generalizada,
  • Transtorno de Ansiedade Induzido por Substância/Medicamento
A ansiedade prejudica seus relacionamentos  interpessoais

Não é só a pessoa ansiosa que sofre. Parentes, amigos e cônjuges sofrem junto.

Quem é ansioso teme situações improváveis, algumas vezes banais. Na tentativa de reduzir a ansiedade, tenta controlar as situações. Pode vir a ser impositivo, tentando colocar regras (ligado à “ditadura dos deveria”), o que gera conflitos que poderiam ser facilmente evitáveis com flexibilidade cognitiva e psicológica.

Tentar controlar as situações pode limitar a vida. A pessoa ansiosa passa a evitar  situações ou ambientes, restringindo suas possibilidades de experiência. E, ao evitar a situação, acaba reforçando a ansiedade.

Se você não enfrenta, não pode desmentir o que você pensou, certo? 

Relacionamentos amorosos

Parceiro/a/s de pessoas ansiosas muitas vezes precisam buscar ajuda psicológica para si também. Elas precisam saber como lidar com esta condição do seu par. Assim, podem preservar o o relacionamento (leia mais abaixo, 22 dicas) e sua própria saúde mental também.

Ajuda seu par a lidar melhor com a ansiedade passa por não reforçar alguns comportamentos evitativos ou controladores. Também é importante sinalizar quando alguma preocupação não se confirma.

A ansiedade pode ser boa?

Em certa medida, a ansiedade pode ser boa e produtiva, ao  proteger de riscos desnecessários.

Mas qual o  limite entre o saudável e o patológico?

Como em vários outros transtornos, a inflexibilidade psicológica e cognitiva caracterizam a ansiedade.  Não adianta saber (cognitivamente) que o que se pensa provavelmente não acontecerá.

A pessoa ansiosa aposta na chance, ainda que reduzida, de que irá acontecer. E tem o pensamento mágico de que irá conseguir impedir que a catástrofe não acontecerá se evitar algumas situações.

O que fazer para ajudar? 

Você não consegue saber tudo o que se passa na mente da pessoa ansiosa. Dependendo do que você falar para ela, ela pode ficar com mais ansiedade ou até raiva. Caso se sinta julgada, desqualificada ou criticada ela pode se afastar, inclusive.

Não tente minimizar o que a pessoa ansiosa sente – ela sente na pele dela. Por mais que você seja uma pessoa empática, a emoção é dela, não sua. 

Então, preste bem atenção ao que não dizer

Raven Fon listou 22 coisas importantes para quem tem amigos ou amigas que sofram de ansiedade. Se você está em um relacionamento  amoroso, íntimo, com alguém que sofre de ansiedade, deve observar bem estas dicas. 

  1. Por mais que  você ache a causa da ansiedade  totalmente irracional, é muito real para ele/a;
  2. A ansiedade pode surgir a qualquer momento e quando ela surgir a única coisa que você pode fazer é dar apoio;  
  3. Eles não estão dispensando você. É difícil fazer planos e falar ao telefone é, às vezes, igualmente. Nem isto  significa que eles não querem  passar um tempo com você e conversar – simplesmente não podem.
  4. Seja paciente com as pessoas ansiosas;  nem sempre a ansiedade parece um ataque de pânico. Às vezes, se expressa como raiva, ou pode parecer com uma grande frustração ou aborrecimento.
  5. Não leve para o lado pessoal se elas demonstrarem frustração ou raiva – não é sobre você.
  6. Mesmo quando as coisas são maravilhosas, há aquela ansiedade e medo de algo horrível ao virar da esquina. A felicidade é fugaz, na melhor das hipóteses.
  7. Quando estão calados, nem sempre é porque estão tristes, entediados ou cansados. Pelo contrário, há tanta coisa acontecendo em sua mente que é difícil acompanhar tudo o que acontece ao seu redor.
  8. Ansiedade nem sempre é explicável. Às vezes, as pessoas ansiosas nem   sabem porque estão se sentindo assim.
  9. Sentem muito por todos os convites que recusam, pelo comportamento irracional e coisas ofensivas que eles disseram quando estavam se sentindo sobrecarregados ou assustados. Sentem muito que a ansiedade deles também lhe machuque. – às vezes, passada a situação, o sentimento é de vergonha, que pode levar ao afastamento e piorar o quadro.
  10. Elas podem parecer que querem se isolar – mas não  desista. Reforce que  você ainda se importa e quer vê-los. Continue convidando-os – significa muito o que você pergunta.
  11.  Ansiedade faz com que examinem tudo, o tempo todo. Pode ser exaustivo. – checam muito a situação para minimizar riscos e evitar problemas.
  12.  Não tente “corrigir” a ansiedade.  Apesar de muita gente ter um remedinho de S.O.S à mão, experimente outro caminho: a aceitação. Como par amoroso de alguém que sofre de ansiedade, também trabalhe a sua aceitação de que a pessoa que você ama tem  este traço. A ansiedade já existia, provavelmente, antes de você chegar. O simples fato de aceitar já irá diminuí-la, sem que a pessoa se sinta “defeituosa”. Todo mundo fica ansioso/a de vez em quando.
  13.  Ansiedade nem sempre é óbvia – algumas pessoas não percebem sua própria ansiedade, já que ela é tão natural. Mas você pode dizer o que percebe, abstendo-se de julgar ou de tentar resolver.
  14. Se estão desconfortáveis ​​fazendo algo, pode deixar de fazer. Forçar o problema só piora a ansiedade. Sorria e siga em frente.
  15. A interação social é difícil para algumas pessoas com ansiedade. Não presuma que seus cancelamentos repetidos em seus planos estejam de alguma forma relacionados a eles serem hostis ou preguiçosos. Quando você realmente precisar deles, eles estarão lá para você.
  16. A última coisa que precisam ouvir de vocêé “apenas supere isso” ou “você está sendo bobo/a”.
  17. Continue convidando-os a sair e fazer coisas com você. A ansiedade oscila de um dia para o outro  – alguns dias será mais fácil  que aceitem; portanto, tente outra vez.
  18. Quando  dizem que atingiram o limite e não podem mais aceitar, eles realmente querem dizer isso. Respeite isso e dê-lhes espaço para respirar.
  19. Quando  dizem que não podem fazer algo, são eles que sentem o maior desapontamento.
  20. Às vezes,  só precisam ficar sozinhos. A ansiedade não pode ser abalada por “fazer algo divertido” e não pode ser remediada usando os mesmos métodos que você usaria para alguém que foi demitido recentemente. Eles não são loucos ou chateados, eles só precisam recentrar e relaxar.
  21. Quando  falarem com você, eles examinarão cada palavra – o contexto, a gramática, as insinuações. E eles podem continuar obcecados com essas conversas nos próximos anos. – dependendo inclusive do seu histórico, da sua linha de psicoterapia, por exemplo, uma palavra fora do lugar pode ser interpretada de forma totalmente distorcida. Tenha paciência.
  22. Pessoas ansiosas não são sua ansiedade. – são pessoas que sofrem, são únicas e tudo o que elas querem (e precisam) é que sejam aceitas e amadas incondicionalmente.

Como tratar?

Caso você seja a pessoa ansiosa,  procure ajuda profissional. Siga as orientações de profissionais da área da saúde mental.

Mudanças no estilo de vida podem ser o suficiente: inclua atividades físicas, meditação e cuide da sua dieta. Psicoterapia também facilita o processo. A meditação permite aprender a observar seus pensamentos, não ligar para todos eles. Assim, a pessoa vai regulando a sua ansiedade.

Eventualmente, a medicação pode ser necessária, com acompanhamento médico. Continuando o tratamento, mantendo hábitos saudáveis e a psicoterapia, os remédios podem até ser retirados. Mas, sempre, seguindo as orientações médicas. 

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Thays Babo é psicóloga e publicitária, Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio. Com formação em TCC, em Terapia do Esquema e extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP), atende a jovens e adultos em terapia individual, de casal e pré-matrimonial

Atendimento online e presencial  em Copacabana. 

Transtorno de Ansiedade – como amar alguém ansioso?
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