Dados coletados pela OMS relacionam o Brasil como um dos países  com a população mais ansiosa do mundo: 9,3% da população sofre de ansiedade. Estes dados são anteriores à pandemia de covid-19. Assim, é bem possível que este percentual seja ainda maior.

Além disto, nem todas as pessoas identificam que sofrem deste transtorno. E dentre as que se identificam nem todas buscam ajuda, ficando de fora das estatísticas.

A ansiedade não é de todo ruim. Ela surgiu com uma função evolutiva: preservar nossa vida, garantir nossa sobrevivência. O problema é o excesso, que paralisa.

A ansiedade como padrão familiar

Muitas pessoas aprendem a ser ansiosas na família de origem. Pais, mães e outros cuidadores, se muito ansiosos, criam com pensamentos pessimistas, catastróficos. Não estimulam a exploração do ambiente, dizem que o mundo é perigoso e que não se pode confiar em ninguém. Fica difícil, às vezes, quebrar o padrão.

Tenha em mente que nem tudo o que lhe ensinaram é verdade ou útil.

Preste atenção na mensagem que você passa para as pessoas que você educa. Você deve aprender a regular suas emoções para que a sua vida não seja limitada por pensamentos ansiogênicos que podem ser totalmente falsos.

Na era digital a ansiedade aumentou

Além do ambiente familiar, o estilo de vida contemporâneo contribui para que a ansiedade atinja níveis intoleráveis. Viver em grandes centros urbanos, por exemplo, traz questões como a violência, insegurança, trânsito pesado, dentre outras.

Ao longo da pandemia de corona vírus, por exemplo, o excesso de informações, em tempo integral, trouxe mais ansiedade. Ou seja, a tecnologia digital contribui para o aumento da ansiedade.

Além disto, nas redes sociais, fazemos comparações com outras pessoas. Aumentamos nossa auto-cobrança. Seguir ‘celebridades’, ‘personalidades’, e mesmo pessoas amigas, pode, portanto, gerar insatisfação. Elas podem parecer melhores do que nós, mesmo não estando. Comparações assim podem ser bastante injustas e gerarem insatisfação e competição. Mais uma vez, fica a sugestão do detox digital e do “unfollow” nas mídias sociais.

Tempo para uma parada

O mundo digital não trouxe mais lazer. Trouxe facilidades, mas a um custo alto. Por exemplo, muitas corporações exigem que seus “colaboradores” sejam ‘multitarefa‘ e disponíveis 24 horas por dia; vários cargos e funções foram extintos. Assim, as pessoas estão sobrecarregadas e obrigadas a ‘performarem’ bem…

Empresas mais antenadas com questões de saúde mental têm investido em programas de saúde mental para sua equipe, incluindo aí o treinamento em práticas de mindfulness, para ajudar a manter o equilíbrio.

Relacionamentos amorosos e a ansiedade

Os relacionamentos amorosos também têm se mostrado mais instáveis nesta era digital. Há uma vigilância constante sobre o/a parceiro/a, aumentando a ansiedade, principalmente por causa dos aplicativos de relacionamentos, como Tinder e Hppn. O Facebook lançou o Dating, com uma estratégia bem agressiva: oferece o recurso mesmo para quem não está à procura de parceria amorosa ou sexual. Nos próximos meses, isto deve resvalar nas queixas clínicas.

Farmacoterapia – e o que mais?

A indústria farmacêutica tem lucrado bastante com os ansiolíticos e sofre críticas de vários profissionais da saúde mental. Psicólogxs não medicam mas já recebem clientes que já se autodiagnosticam, graças às informações disponíveis on-line.

Muitas destas informações nem são corretas – o que é um enorme risco para a saúde mental e emocional.

Há quem já chegue se definindo como portador de algum tipo de transtorno de ansiedade e querendo um remédio para acabar com ela. Nem sempre há o interesse de aprender a lidar com a ansiedade, mudando comportamentos ou identificando as situações gatilhos muitas vezes exclusivamente mentais, que disparam a ansiedade.

Como regular as emoções

Quem adere à psicoterapia pode aprender a regular suas emoções. Assim, não precisará recorrer, 100% das vezes, à medicação.

Afinal, há um preço que vai além do que se paga na caixa registradora da farmácia: os efeitos colaterais de muitos medicamentos e suas interações com outros remédios (os de uso prolongado, por exemplo).

Atualmente, psiquiatras já reconhecem a importância da mudança no estilo de vida para manejar a ansiedade. Praticar atividades aeróbicas, meditar, ter um bom sono e se alimentar bem, ajuda bastante.

Um dos melhores recursos naturais para combater ou prevenir ataques de pânico são os relaxamentos e técnicas respiratórias, como respiração diafragmática. Já está comprovada a relação entre a ansiedade e alterações na respiração. Tensa, a pessoa respira de forma mais curta, acelerada.

Todo cuidado é pouco na hora de diagnosticar e prescrever – atribuições da psiquiatria. Mas a boa prática psiquiátrica não é só a medicação: inclui a parceria com a psicoterapia, que ajuda preventivamente.

Psicoeducação e regulação emocional

Em psicoterapia, aprende-se a regular as emoções e a lidar com crise de ansiedade. Apesar de a pessoa acreditar firmemente que não consegue dar conta sozinha, nem suportar um momento de ansiedade – a psicoeducação ajuda a entender o seu ciclo.

Inicialmente, muitas vezes a pessoa acaba recorrendo a um psicofármaco. Pessoas que resistem à ideia da medicação acabam muitas vezes usando álcool e/ou outras substâncias, o que pode ser um risco a mais e não funcionar a médio e longo prazo.

A psicoterapia ajuda a quebrar o ciclo de pensamentos, ao identificá-los. Ensina a regular as emoções para que não se tenha uma vida embotada. Mas é preciso se implicar no processo psicoterápico e fazer mudanças comportamentais e cognitivas. Aliás, isto se aplica a praticamente todos os transtornos psíquicos).

Além disto, na psicoterapia também se desenvolvem a autocompaixão e a segurança necessárias para se recusar a atender a todas as expectativas externas.

Foto de Gabriel Matula em Unplash

Vivendo em um mundo ansiogênico, talvez o primeiro passo para lidar bem com a ansiedade seja aceitar que ela não será totalmente “zerada”. A psicoterapia ajuda a aceitar este fato: tem-se ansiedade – mas não se é a ansiedade. A ansiedade pode vir e ir embora.

Abordagens psicoterápicas eficientes no manejo da ansiedade

A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), por exemplo, não se empenha em “combater”a ansiedade. Estimula-se que se observe a ansiedade, sem ter de ‘brigar’ com ela. O que a fez surgir, como se fica quando ela aparece, será que tem de se fazer algo?

Outras abordagens clínicas, como a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC), usam técnicas para amenizar a ansiedade, com a reestruturação cognitiva, por exemplo.

Aprende-se a enfrentar situações estressantes que aconteçam fora do setting terapêutico. Com os recursos e técnicas ensinadas, a pessoa pode combater suas crises de ansiedade ou pânico – minimizando, por exemplo, as idas às emergências e, dependendo do caso, aos poucos, diminuindo a medicação – com o devido acompanhamento psiquiátrico.

Se você tem sentido que a sua ansiedade vem aumentando e fugindo ao seu controle, procure ajuda psi. Vamos falar sobre isto.

Thays Babo é Psicóloga Clínica, Mestre pela Puc-Rio, com formação em TCC e extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP). Atualmente cursa a formação em Terapia do Esquema, pela Wainer Psicologia.

Atende a jovens e adultos em terapia individual, de casal e pré-matrimonial,  em Copacabana. Durante a pandemia a maioria dos atendimentos é online.

Ansiedade – quando o futuro que imaginamos é o pior possível

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.