Você tem a sensação de tempo curto, ou melhor, de que não dá tempo para nada? Estamos sempre correndo e nos queixando com os amigos e familiares de que não sobra tempo.
Eu também sinto isto! O que se passa? Afinal, o dia continua tendo 24 horas e cada uma com os mesmos 60 minutos. Cada minuto com 60 segundos.
O que rouba o nosso tempo
O uso excessivo de tecnologia tem sido apontado como um dos ladrões de tempo. Pesquisadores da área da saúde física e mental têm alertado para os prejuízos do uso excessivo da tecnologia digital.
(Este texto, de 2017, voltou ao destaque por causa da repercussão do documentário Dilema das Redes, lançado em 2020. Alguns comentários estão no meu perfil do LinkedIn).
Ficar consciente do que rouba o seu tempo para poder mudar hábitos e comportamentos.
E, segundo estudos apontam, nossa vida online rouba tempo da vida offline. A criação dos smartphones aumentou o nosso consumo de tecnologia.
Mudamos hábitos. Deixamos hábitos saudáveis de lado. Assim, os prejuízos se dão tanto na sua saúde física como na emocional e também na saúde mental. Pesquisas apontam que há uma relação entre o crescimento de alguns transtornos mentais após o surgimento das mídias digitais.
Smartphones mudam os relacionamentos e impactam a saúde mental
A criação dos smartphones também revolucionou os relacionamentos, em todas as esferas.
Dentre os impactos na saúde mental, destacam-se os prejuízos da memória, atenção e concentração. O aprendizado é comprometido – durante a época de pandemia e período de quarentena, este prejuízo ficou bem evidente. Mas as consequências serão conhecidas a longo prazo.
A interação física diminui, contribuindo para aumento de depressão e ansiedade. Consequentemente, os relacionamentos amorosos também são afetados com estes transtornos.
A vida profissional na era digital
Para controlar a queda na produtividade, no início da internet, muitas empresas bloqueavam o acesso à rede. As redes sociais fizeram com que limitassem o tempo de acesso – ou até bloqueassem alguns sites . O tempo era monitorado para não prejudicar a produtividade.
O smartphone sabotou este controle. O prejuízo não é só corporativo: a médio e longo prazo, há um prejuízo pessoal.
Além disto, prazos não cumpridos, por conta da distração online, atrapalham o trabalho e os resultados de equipes. Caso detectado o problema, pode incorrer em demissão.
Quando você não atinge suas metas pessoais – ou acontece uma demissão – pode acabar percebendo sua responsabilidade. E aí, o que você sente?
Muitas pessoas relatam culpa, vergonha e sentimento de fracasso. A auto estima e autoconfiança ficam abaladas e pode-se desenvolver um quadro depressivo.
Descobertas mais recentes da neurociência mostram que o ser humano deve ser monotarefa. O conceito de multitarefa é ótimo para as corporações, mas não para as pessoas. Ser multitarefa inclusive, prejudicara qualidade da execução da tarefa propriamente dita e pode colocar a vida em risco (por exemplo, dirigindo enquanto se usa o celular).
Smartphones e os relacionamentos afetivos
Os relacionamentos amorosos e familiares podem ser prejudicados, se não houver autocontrole. Através dos aplicativos e redes sociais, pessoas se aproximam mas também se afastam – muito por causa do comportamento online.
O uso excessivo da tecnologia aparece como queixa frequente para a terapia de casal. Heavy users deixam seu par de lado e mergulham no smartphone. Carregado pra cima e pra baixo, o celular chega à cama.
Levar o smartphone pra cama dificulta a comunicação com quem está próximo, ao lado. O tempo dedicado à comunicação olho-no-olho, ou à interação física, ao toque e a sexualidade (ingredientes importantes para uma relação amorosa), é investido em interações superficiais. Ou mesmo informações desnecessárias.
Prejuízos do smartphone para saúde física e emocional
Já foi comprovado que a mera presença do smartphone no ambiente atrapalha a concentração e distrai. E prejudica o sono.
- Nos encontros com a família, as interações diminuem e a comida fica menos saborosa. Pode-se inclusive comer mais por isto – impactando também no ganho de peso;
- Especialistas dizem que só a vibração já perturba e que sons de alerta para notificações tornam a pessoa ainda mais distraída – produtividade cai;
- O sono também fica alterado e aumentam os casos de insônia.
- O smartphone também prejudica o sono – deve ser deixado fora do quarto na hora de dormir. Se ele for o seu despertador, considere comprar um analógico.
- Cada vez mais cedo as crianças usam dispositivos digitais – o que prejudica o desenvolvimento de habilidades sociais. Especialistas recomendam que só usem após os 5 anos. Mas pais e mães usam, muitas vezes, como babá, para as distrair.
O impacto dos smartphones nas novas gerações
Quem já nasceu na época de tecnologia digital perde algumas experiências importantes, de relacionamento interpessoal. Perdem habilidades sociais.
Talvez por isto, pesquisas relatam que as novas gerações têm menos relações sexuais do que as anteriores. Consomem mais pornografia online.
Têm menos paciência com processos mais lentos. Ou pessoas.
Alguns consultores de tecnologia apontam dicas para minimizar os problemas advindos daí – um deles é a depressão, que aumenta entre os jovens.
Um novo mercado: os dumbphones
A indústria, percebendo estes conflitos, criou um nicho de aparelhos ‘alternativos’, na contramão dos mais modernos e conectados: os “dumb phones“.
Sem tantos aplicativos e recursos, dispersa-se menos. O público alvo? Pessoas, saturadas de tanta tecnologia e irritadas com a interferência do celular.
O designer Marc Jacobs radicalizou ao bloquear o uso de celulares em seus desfiles, por considerar falta de respeito o comportamento das pessoas em seus eventos.
Radicalize: delete
Mas como diminuir o tempo desperdiçado nas redes sociais, em especial? Especialistas sugerem uma atitude radical: deletar os aplicativos do celular. Afinal, o design para os aplicativos no smartphone é ainda mais viciante, por ser mais fácil.
Mas você também precisa aprender a gerir seu tempo. Muitas vezes existem outras questões emocionais para você se distrair na rede. Você pode estar querendo se desligar da realidade, mesmo. Em Terapia do Esquema, dizemos que o modo “Protetor Desligado” está ativado. Esteja consciente.
Em uma palestra TED, Rory Vaden questiona o conceito de gestão de tempo. De forma clara e direta, Vaden explica que é impossível aumentar o tempo. Você precisa é administrar suas emoções para usar bem o tempo que se dispõe. E parar de lamentar o tempo perdido.
A autogestão, o dizer ‘não’, saber filtrar, não é fácil para a maioria das pessoas. Depende menos de argumentos racionais e lógicos e mais da gestão das emoções. O primeiro passo é reconhecê-las.
Por que é tão difícil mudar hábitos online?
Sua dificuldade de reduzir o tempo que passa online – seja nas redes sociais, aplicativos ou jogos – não é casual. Este não é um problema só seu. Todo o design e programação visa a tornar viciante, mesmo.
Por isto, não se culpe. Nem alimente crenças autodepreciativas. Porém, talvez para mudar mais hábitos e conseguir deletar aplicativos do celular, talvez seja necessário buscar ajuda. Faça psicoterapia.
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Thays Babo é Psicóloga Clínica, Mestre pela Puc-Rio, com formação em TCC e extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP), em formação em Terapia do Esquema, pela Wainer Psicologia.
Atende a jovens e adultos em terapia individual, de casal e pré-matrimonial, em Copacabana. Durante a pandemia de coronavírus, os atendimentos são predominantementeonline.